Quando completou uma semana de vida, os pais
de Adélio Dani, perante as capacidades intelectuais do bebé, decidem matricular
o filho na Faculdade de Economia do Porto.
Nesse dia à tarde, entram na Faculdade e
dirigem-se à portaria.
- Boa tarde, eu e a minha senhora, gostávamos
de falar com o reitor da Faculdade! – Diz Augusto, de “papo cheio”, para o
porteiro.
- Subam a escadaria e dirijam-se à receção. –
Indica o senhor da portaria.
Chegados à receção:
- Boa tarde, eu e a minha senhora gostávamos
de falar com o reitor da Faculdade! – Diz Augusto, de “papo cheio", para a
senhora da receção.
- Dirijam-se ao Conselho Diretivo, ao fundo do
corredor. – Indica a senhora da receção.
Chegados ao Conselho Diretivo:
- Boa tarde, eu e a minha senhora gostávamos
de falar com o reitor da Faculdade! – Diz Augusto, de “papo cheio”, para a
menina que o atendeu.
- Isso tem que ser na receção. A Dona Alzira
é que tem que marcar o encontro.
- Mas já estivemos lá e ela disse para virmos
aqui! – Diz Augusto.
- Isso é bom! Assim já sabem o caminho para a
receção. – Diz a menina com um sorriso rasgado, enquanto Dália pensa:
“Pregava-te era com uma faneca nas trombas!”.
Chegados novamente à receção:
- Outra vez! – Exclama dona Alzira, a
rececionista.
- Pregava-te com uma lampreia nas trombas! – Resmunga
Dália, baixinho com os dentes serrados a tentar manter a calma.
- Pois é, no Conselho Diretivo, disseram-nos
para virmos aqui para marcar um encontro com o reitor. – Explica Augusto.
Dona Alzira, a rececionista, “passa-se”:
- É sempre a mesma coisa...tudo para mim. Queria
ver como é que esta mer…esta
Faculdade funcionava sem mim! Sempre eu, sempre eu! Tudo o que é trabalhinho,
sempre, sempre para mim! Sempre a mesma coisa…mais uma caixinha, mais uma
caixinha!
Nesse dia de trabalho, dona Alzira tinha
feito dois telefonemas, um deles para o marido, e tinha passado o resto do dia
a fazer croché! Faz a ligação para o
Reitor:
- Tou, Sr. Reitor, está aqui um casal com um bebé,
para falarem com o Sr. Doutor!
- Um bebé?! Ui, é meu filho ou afilhado? – Pergunta
o Sr. Doutor.
- Só um momento! – Diz a dona Alzira ao
Reitor e dirige-se para Augusto e Dália. – A criança é filha do Reitor, ou tem
alguma relação de parentesco com ele?
- Não, o filho é do meu Augusto, e aqui, só a
senhora conhece o Sr. Reitor! – Responde Dália chateada com a insinuação.
De novo ao telefone:
- Sr. Doutor, a criança não é nada a si. – Diz
Alzira.
E do outro lado da linha:
- Então o que é que eles querem? – Pergunta o
Reitor.
De novo virada para o casal, Alzira pergunta:
- O que é que querem?
- Diga
ao senhor Reitor, que temos aqui um fenómeno! – Diz Augusto.
E de regresso ao telefone:
- Senhor Doutor, o fenómeno! Eles dizem que
têm aqui o fenómeno!
- O CR7 está aí? – Pergunta o Reitor.
- Não! Já lhe disse, aqui está um casal com
um bebé! – Diz Alzira, com cara de parva.
- Eles que esperem! Eu desço já! – Disse o
Reitor intrigado.
Chegado à receção o reitor pergunta:
- Então dona Alzira, é este o casal?
- É , Sr. Reitor!
- E o fenómeno? – Pergunta o reitor, virado
para o casal.
- É isto…o bebé! – Responde Augusto em tom
sepulcral, elevando o filho com os braços.
- Não se importa de baixá-lo para eu poder
vê-lo? – Pede o reitor.
- Ah, sim, sim. – Responde Augusto, como que
voltando à realidade, e baixa o bebé.
- A mim parece-me normalzinho…uma cabeça,
duas pernas, duas mãozinhas, uma pilinha…porque é rapaz…normal! – Aprecia o
reitor.
- Normal o quê? É o mais bonito de todos! – Responde
Dália, chateada.
- E um fenómeno! – Repete Augusto.
- Mas ele é superdotado? – Pergunta o reitor.
- Não, o meu menino é hiperdotado! – Responde
Dália, com firmeza.
- Vamos até ao meu gabinete! – Diz o reitor
Todos sobem ao gabinete do Sr. Reitor, de
onde ele faz um telefonema para um amigo médico, especializado em pediatria, que
tinha tirado uma hiperespecialização em pediatria fenomenal, a quem pede para
ir à Faculdade, para analisar o bebé Adélio Dani.
- Hum, hum, hum, hum, sim, sim, sim, nha, nha,
nha, ooooohhhhh, este bebé realmente é hiper… - Diz o médico, quando sem ter
acabado, é interrompido por Augusto.
- É hiperdotado!
- Não! Mas não fiquem tristes, pois o bebé,
tão novinho e já é HIPERtenso e HIPERcondríaco! – Diz o médico.
- Obrigado meu amigo médico, já podes ir. – Diz
o reitor ao médico, acompanhando-o à saída e empurrando-o para fora do
gabinete. Fecha a porta.
- São 100 €! – Ouve-se do lado de fora.
Voltando para a beira de Dália, Augusto e
Adélio Dani, o Reitor mais esclarecido, diz:
- Pois nada garante que ele seja hiperdotado.
- Mas é, Sr. Reitor. O nosso bebé com três
minutos de vida já falava! – Diz Augusto.
- Eh pá, realmente isso é fenomenal! – Exclama
o Reitor.
- Pois
é, por isso é que viemos aqui. Para matriculá-lo na Faculdade! – Explica Augusto.
- Hi, hi, não pode ser! – Diz o Reitor.
- Mas
ele é mesmo fenomenal, pode vir a ser Presidente! – Diz Dália.
- Da
República? – Diz o Reitor admiradíssimo.
- Não! O meu sonho é que ele seja presidente
de uma mesa de voto numas eleições autárquicas! – Diz Dália, com o pensamento
no mundo dos sonhos.
- Bem, ele pode ser hiperdotado, mas tenho
que lhe fazer uma prova oral! – Diz o reitor.
- À vontade. – Dizem Dália e Augusto.
- Como é que o bebé gosta de ser tratado? – Pergunta
o reitor.
- Élio, Adélio! – Responde Augusto, cheio de
orgulho.
O reitor pega no bebé e senta-o numa cadeira
enquanto ele se senta noutra. Quando se vira para Adélio, ele já estava
tombado. Augusto, prontamente pega no filho e:
- Bebé mimado. – Repara o reitor, e continua:
– Muito bem Adélio, se realmente queres entrar na Faculdade de Economia, vou
fazer-te umas perguntinhas. Se acertares, és matriculado, percebes?
Adélio Dani, sorri!
- Muito bem. Adélio, qual é a tua opinião
sobre os princípios da economia política e da tributação, baseada na teoria da
distribuição do excedente entre as diversas classes sociais? – Pergunta o
reitor, tendo noção que fez uma pergunta difícil.
Adélio Dani, atacado pela fome, porque estava
na hora de mamar, desata a berrar. Ao fim de um minuto de berros, o reitor
intervém:
- Adélio, chega! Tens razão, eu acho o mesmo.
“Os princípios da economia política e da tributação” são de berros! Agora cala-te
e vamos à segunda pergunta. Descreve-me a “Teoria das vantagens absolutas”.
Dália estava ao lado do seu filho, e este
agarra-se à sua mama para saciar a fome.
- Muito bem Adélio, tens uma semaninha apenas
e pensas exatamente como eu. A “Teoria das vantagens absolutas” é para mamões! Sabes mais do que alunos que
estão no último ano!
Neste momento a expressão do reitor é de
enorme espanto, enquanto os pais sorriem, como se já estivessem à espera
daquele desempenho.
- Vou fazer mais uma pergunta, cuja resposta
está ao alcance de poucos! – Diz o reitor, e pergunta: - Bebé Adélio, o que
achas da relação entre política e economia, nas teorias de Arrighi e
Wallerstein?
Mal o reitor termina a pergunta, Adélio acaba
de mamar e arrota e de seguida lança um pequeno vómito.
- Hei pá, é isso! O que Arrighi e Wallerstein
disseram é um vómito, um arroto de porcaria! – Exclama o reitor.
Sem perder tempo telefona para um colega que
lhe estava a preparar um discurso para ser apresentado no “Congresso Ibérico de
Economia":
- Tou, Pires, sou eu. Já escreveste a parte
do discurso sobre a relação entre política e economia, nas teorias de Arrighi e
Wallerstein?
- Mal acabei de por o “ponto final”, tu
ligas-te. Queres que te envie por e-mail? - Pergunta o Pires do outro lado da
linha.
- Esquece, apaga e refaz essa parte! Vais
escrever que “a relação entre política e economia, nas teorias de Arrighi e
Wallerstein”, são um arroto, um verdadeiro vómito de leite! – Dita o reitor,
desligando de seguida. Vira-se para a família maravilha e continua: – Muito bem
meus senhores, vamos tratar da matrícula do vosso Adélio Dani, e certamente vai
ter direito a bolsa!
- Ó, ó, ó Sr. Reitor, eu e a minha senhora
tentamos acompanhar o evoluir dos tempos, mas não dá para oferecer uma bola de
capão ao nosso menino? – Pergunta Augusto.
- Não percebo! – Diz o reitor.
Dália baixa as calças do menino, aponta para
a pilinha de Adélio Dani e diz:
- Ó Sr. Reitor, está a ver isto?
- Um pénis! – Diz o reitor sem estar a
perceber nada.
- Acha adequado uma bolsa para um menino? Não
é melhor uma bola ou até uma fisga?! Mais um bocadinho oferece-lhe uma tatuagem
no “Tania’s Tatoo Body”! – Remata Dália.
- Não,
não estão a perceber! O que eu quis dizer é que o vosso filho receberá dinheiro
para estudar. – Esclarece o reitor.(continua)