Uma das espécies que começou a entrar em declínio nos
anos oitenta, da qual eu era um belo exemplar, mas sem plumas, em contraposição
com o “boom” do eucalipto, foi a “a canalha”.
O sexo masculino da espécie “a canalha”, depois da escola, juntava-se na rua, não atraído pelas
feromonas do sexo feminino da espécie, porque estas ainda se pareciam com o
sexo oposto,rasas de peito, mas pela gritaria dos outros elementos,
enquanto corriam atrás de uma bola.
Os elementos desta espécie de comportamentos castiços,
que “gadulhavam” entre si e de seguida andavam aos abraços, olhavam com
desconfiança para os carros que passavam, legitimamente, na estrada, ocupada
por nós, e apreciava muito os cantos, não os marcados quando a bola saía pela
linha de fundo (imaginária), mas os da rua, que serviam de casa de banho, para
alivio em momentos de aperto!
Esta espécie, ”a
canalha”, ao contrário de todas as outras, não se reproduzia, a regeneração
ficava a cargo da espécie “Adultus pós
canalha”, que me fez pensar que deixaram de o fazer.
“A canalha” de
oitenta desapareceu e lembro-me de ver o último exemplar vivo no início dos
anos noventa, sozinho, de bola debaixo do braço, na mesma estrada em que eu jogava
à bola com os meus amiguinhos, na altura em paralelos e agora de asfalto e
transformada em IC (itinerário complementar). Nini, o último da sua espécie,
usava a mesma coleira que colocam nos linces ibéricos, para serem
monitorizados...foi atropelado. Ainda hoje é chorado na Quercus, o Nini e a
Matilde, a última da sua espécie também, uma begónia rara de exterior!
Curiosamente, a caminho do meu trabalho, passo pela EB 2/3 , no meu tempo chamada de Ciclo, onde vejo muitos
seres parecidos com a extinta espécie “a
canalha”, mas não os vejo na rua no fim das aulas. Não sei como se chamam,
mas são muito parecidos!
E curiosamente, num desses dias de regresso a casa, o meu
amigo Miguel telefona-me para à noite vermos o “Jurassic Park” e o
“Anikibóbó”...devia-lhe apetecer ver filmes com espécies extintas!
Entusiasmado pelo convite, que me aumentou os níveis de
adrenalina, na minha rua, sempre calma, acelero e ultrapasso o Sr. Libório, que
se desloca sempre de bicicleta. Já com o carro estacionado, ouço gritaria, para mim mágica, que me leva para tempos antigos...olho para a frente e vejo dois
exemplares da espécie “a canalha”, a
chutarem a bola um para o outro, com balizas marcadas com quatro pedras.
Entrei em casa preocupado que o convite do Miguel me
tivesse deixado drogado. Subi rapidamente ao 1º andar e na sala continuava
a ouvir o barulho da “canalha”...espreito à janela e eles lá estão!
Telefono ao meu amigo e digo-lhe:
- Miguel, vai espreitar à tua janela. Pode ser que
vejas dinossauros na rua!