sábado, 20 de abril de 2013

Doce ilusão.


De uma forma geral, cada indivíduo, cada um de nós, tem-se em boa conta. Não raras vezes vejo mulheres volumosas e vaidosas, vestidas de Top, a exibirem as suas carnes roxas e penduradas, e, ouço e vejo homens em posse de “galo” a dizerem: - Elas não me resistem!
E não raras vezes, de seguida, eu penso: “Poça, com esse aspecto?! Se fosses como eu, como seria?!”.
Sem me dar conta, também me estou a ter em demasiado boa conta! E o ter-me em “boa conta” continua no futebol aos sábados à tarde, onde tenho a certeza, que a minha equipa sem mim, teria um rendimento francamente menor; no grupo com quem ando de bicicleta, onde sou inegavelmente o mais bonito (mas sou mesmo, os outros são feios e alguns muito gordos)…e no ginásio, onde o ponteiro da balança marca o peso de um corpo que parece uma máquina bem oleada…
Ainda assim, nunca conheci ninguém como um amigo de infância, que “atacava” todas as miúdas, e que levava uns valentes “Nãos” de 98% delas, mas a sua auto-estima ficava sempre intocável! Certo é, que o estado deste amigo, assumia para mim, contornos de doença.
Sem nos apercebermos, a maior parte de nós, vive em estados de “doce ilusão”, provocados, quanto a mim, principalmente, pelas nossas mães.
Quando nascemos, enrugados, de cor estranha e pouco bonitos, para as nossas mães, somos, “A coisa mais linda”, sendo parecidos com o pai ou a mãe, chegando algumas ao ponto esquizofrénico, de achar o rebento parecido com o bisavô!!!
Bebé não se parece com nada…apenas com outros bebés.
Mas durante o nosso crescimento, o amor de mãe, vai alimentando a nossa “doce ilusão”. Ela vê-nos como os mais bonitos, os mais inteligentes, os traquinas mais fofos,… e mesmo quando somos gordos, acha-nos fortezinhos, e só olhos maldosos, nos podem achar “gooooordos”, pois somos uns “filhos de ouro”!
A única excepcção que conheço, é Dália, mãe de Adélio Dani, que numa ocasião, quando o filho lhe pergunta se é bonito, ela não respondeu, por achar feio mentir!
Esta passagem é de uma estória que escrevi, e que fará parte do meu segundo livro (quando sair…um dia) e me transporta para o final de tarde, de um dia, a meio desta semana.
No final do meu treino, no ginásio, vou à balança pesar-me. Após o ponteiro parar e de verificar o peso, achando-me em “boa conta”, comento baixinho: - Boa rapaz, mais atlético…, mais músculo, logo, mais peso!
Depois do ritual no balneário, olhar-me ao espelho de diferentes ângulos, tomar banho, voltar a olhar-me ao espelho de diferentes ângulos e vestir-me, fui a casa dos meus pais.
Triiiiimmm! – Toco à campainha e abre-se a porta. Do outro lado está a minha mãe.
Após os cumprimentos de mãe e filho, num jogo psicológico de risco, comento:
- Mamã, estou mais gordo! – ironizo com os quilos a mais de músculo, fruto de treino intenso.
Após uma pausa, a minha mãe responde:
- Estás nada filho, estás jeitoso, como sempre!
A pausa eterna, de cerca de um segundo, para dar a resposta, foi um choque brutal: ”Estou gordo”! Chegado a casa, deito-me e tenho duas alternativas; ou voltar atrás no tempo,até à época em que gordura masculina era sinal de ostentação, ou ter regra e recuperar a “linha”.
Após breve ponderação, pus de lado a hipótese de voltar atrás no tempo e elegi a recuperação da “linha”…porque a minha mãe quebrou a minha “doce ilusão”!

Termo-nos em boa conta, não tem nada de mal, mantém-nos a auto-estima em cima e confiantes…desde que não percamos a noção do ridículo e o choque com a realidade, não nos deprima.
Espero que estas palavras sábias, vos tragam alguma clarividência!

sábado, 13 de abril de 2013

Palpites (a)variados!


Nós, portugueses, somos bons no “palpite”. Custa-nos estar num grupo, cujo tema da conversa não dominamos, e estarmos calados. A falar, quando não se sabe, o mais prudente seria perguntar, para aprendermos, mas o nosso “felling portuga” dá-nos a segurança suficiente para soltar uma “posta de pescada”, seja qual for o tema, desde o “Latifúndio versus Minifúndio”, passando pelos “Direitos e deveres dos titulares de cargos públicos”, roçando o tema do “Fora de jogo”, dando um toque na “Estratégia espacial da NASA” e culminando no tema quente, se o Tójó anda metido com a Carla ou a Cátia!
Como “bom português”, não estou imune a esta característica e recordo-me perfeitamente de na minha adolescência ter tido uma conversa, durante um jantar inteiro, cujo tema eram os Karts…de que não percebia nada! Mas a fluência e certeza das minhas intervenções, convenceram os presentes, incluindo um practicante da modalidade, e a mim mesmo, de que eu era um grande entendido da matéria! No final dessa noite, quando cheguei a casa, fui à garagem verificar se não teria um!
Há menos tempo, quando se procedia à construção da nova estação de comboios da Trofa e ao desvio da linha, numa conversa sobre o tema, alguém comentava, sem saber o que dizia, mas com toda a certeza do mundo:  – As obras na linha são para o TGV!
Ninguém acreditou, porque as restantes pessoas estavam bem informadas sobre o cariz das obras, mas são estes brilharetes de opinião que gostamos de fazer, que podem ser perigosos quando o ouvinte menos informado toma como certo o que é mentira!
Nos últimos dias todos têm contribuído com a sua “colherada (des)informativa” sobre a Constituição…e eu também quero dar o meu contributo!
Quando se trata de fazer cumprir a Constituição, ela tem de ser cumprida sempre, e não às vezes, e aplicada a todos, e não só a alguns, e pode ser suspensa em duas situações, o estado de sítio ou o estado de emergência, que passo a transcrever conforme está escrito na mesma – “O estado de sítio ou o estado de emergência só podem ser declarados, no todo ou em parte do território nacional, nos casos de agressão efectiva ou iminente por forças estrangeira, de grave ameaça ou perturbação da ordem constitucional democrática ou de calamidade pública.”
Sendo assim, na celebração do último 10 de Junho, o Presidente da República, juntamente com António Costa, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, deveriam ter sido alvo do TC, por terem içado a Bandeira Nacional ao contrário, …mas isto é o menos, depois de ler a nossa Constituição!
A nossa Constituição foi publicada em 1976. Começa fazendo referência ao Movimento das Forças Armadas, ao Fascismo e várias vezes à Revolução! Temos logo no início a apresentação dos condimentos, que nos fazem adivinhar uma “telenovela” ao estilo Sul-Americano e escrita no fervor pós-revolução, que se assemelha ao programa político de um partido que eu enquadraria entre o PCP e o BE!
Continuar a lê-La é como ler um livro de auto-ajuda de um indivíduo que se suicidou, é um choque entre a realidade e a ficção, em que se verifica que sempre existiu, nunca se aplicou e tornou-se “divina”, na análise do último Orçamento de Estado.
Apesar da vontade que possa haver, não pode ser Ela, com quase quarenta anos e alguns ossos partidos, fruto de uma osteoporose de nascença, a correr a maratona que estamos a fazer, num caso de  “…agressão efectiva ou iminente por forças estrangeiras…”.
E é neste ponto que a Constituição está mais ultrapassada, quando faz referência a agressões e invasões militares, quando nos tempos de hoje, as invasões e agressões são económicas.

A Constituição faz-me lembrar o meu avô…nunca quis ir ao médico fazer um “check-up” e troçava daqueles que se cuidavam e mudavam de hábitos, e hoje têm saúde e uma vida melhor…mas o meu avô não dispenso, já a Constituição…acho que é inconstitucional!