De uma forma geral, cada indivíduo, cada
um de nós, tem-se em boa conta. Não raras vezes vejo mulheres volumosas e
vaidosas, vestidas de Top, a exibirem as suas carnes roxas e penduradas, e, ouço
e vejo homens em posse de “galo” a dizerem: - Elas não me resistem!
E não raras vezes, de seguida, eu penso:
“Poça, com esse aspecto?! Se fosses como eu, como seria?!”.
Sem me dar conta, também me estou a ter
em demasiado boa conta! E o ter-me em “boa conta” continua no futebol aos sábados
à tarde, onde tenho a certeza, que a minha equipa sem mim, teria um rendimento
francamente menor; no grupo com quem ando de bicicleta, onde sou inegavelmente
o mais bonito (mas sou mesmo, os outros são feios e alguns muito gordos)…e no
ginásio, onde o ponteiro da balança marca o peso de um corpo que parece uma
máquina bem oleada…
Ainda assim, nunca conheci ninguém como
um amigo de infância, que “atacava” todas as miúdas, e que levava uns valentes
“Nãos” de 98% delas, mas a sua auto-estima ficava sempre intocável! Certo é,
que o estado deste amigo, assumia para mim, contornos de doença.
Sem nos apercebermos, a maior parte de
nós, vive em estados de “doce ilusão”, provocados, quanto a mim,
principalmente, pelas nossas mães.
Quando nascemos, enrugados, de cor
estranha e pouco bonitos, para as nossas mães, somos, “A coisa mais linda”,
sendo parecidos com o pai ou a mãe, chegando algumas ao ponto esquizofrénico,
de achar o rebento parecido com o bisavô!!!
Bebé não se parece com nada…apenas com
outros bebés.
Mas durante o nosso crescimento, o amor
de mãe, vai alimentando a nossa “doce ilusão”. Ela vê-nos como os mais bonitos,
os mais inteligentes, os traquinas mais fofos,… e mesmo quando somos gordos,
acha-nos fortezinhos, e só olhos maldosos, nos podem achar
“gooooordos”, pois somos uns “filhos de ouro”!
A única excepcção que conheço, é Dália,
mãe de Adélio Dani, que numa ocasião, quando o filho lhe pergunta se é bonito,
ela não respondeu, por achar feio mentir!
Esta passagem é de uma estória que
escrevi, e que fará parte do meu segundo livro (quando sair…um dia) e me
transporta para o final de tarde, de um dia, a meio desta semana.
No final do meu treino, no ginásio, vou
à balança pesar-me. Após o ponteiro parar e de verificar o peso, achando-me em “boa
conta”, comento baixinho: - Boa rapaz, mais atlético…, mais músculo, logo, mais
peso!
Depois do ritual no balneário, olhar-me
ao espelho de diferentes ângulos, tomar banho, voltar a olhar-me ao espelho de
diferentes ângulos e vestir-me, fui a casa dos meus pais.
Triiiiimmm! – Toco à campainha e abre-se
a porta. Do outro lado está a minha mãe.
Após os cumprimentos de mãe e filho, num
jogo psicológico de risco, comento:
- Mamã, estou mais gordo! – ironizo com
os quilos a mais de músculo, fruto de treino intenso.
Após uma pausa, a minha mãe responde:
- Estás nada filho, estás jeitoso, como
sempre!
A pausa eterna, de cerca de um segundo,
para dar a resposta, foi um choque brutal: ”Estou gordo”! Chegado a casa,
deito-me e tenho duas alternativas; ou voltar atrás no tempo,até à época em que
gordura masculina era sinal de ostentação, ou ter regra e recuperar a “linha”.
Após breve ponderação, pus de lado a
hipótese de voltar atrás no tempo e elegi a recuperação da “linha”…porque a
minha mãe quebrou a minha “doce ilusão”!
Termo-nos em boa conta, não tem nada de mal, mantém-nos
a auto-estima em cima e confiantes…desde que não percamos a noção do ridículo e o choque com a realidade, não nos deprima.
Espero que estas palavras
sábias, vos tragam alguma clarividência!
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