Sempre que o tempo permite, quando não está a chover, apesar de
preferir os dias luminosos, e não está muito frio nem vento, apesar de preferir
temperaturas amenas e uma brisa refrescante, abdico do carro para fazer uso da capacidade
que nos distinguiu dos macacos, o bipedismo, quando os passeios, na ida e volta,
não ultrapassam os cinco quilómetros num horizonte temporal de seis horas.
Durante o passeio tenho tempo para apreciar a paisagem que me escapa
no dia-a-dia e perceber o sítio a que pertenço, aproveitando tempo só para mim,
perdendo-me nos meus pensamentos, isto, quando inadvertidamente acaba a bateria
do telemóvel que me desliga do Facebook e não me permite continuar a utilizar
outra capacidade que nos distingue dos outros animais, o uso do polegar, para
teclar e fazer “posts”.
Nestas caminhadas, por vezes a
caminho de nada, gosto de passar pelo café. Por vezes, como sinal de humildade
da nossa espécie, paro num em especial, geralmente cheio e ruidoso. Cadeiras a serem
arrastadas, máquina de café sempre a trabalhar, as pessoas despreocupadas,
desatentas ao volume da voz, correndo o risco de ouvir uma estória minha,
empregados atarefados, alguns sem tempo para um sorriso…recordando-me a
algazarra do recreio da Escola Primária, faltando apenas uma bola a correr por
entre as mesas, fazendo-nos parecer como todos os outros animais, deixando unicamente
para a formiga a capacidade de viver numa sociedade organizada e complexa.
Noutras ocasiões, prefiro um outro café, mais sossegado, que me
permite dar uso à inteligência, que me põe a anos- luz à frente dos outros
(animais) e saber o que se passa no mundo, lendo os jornais, isto enquanto as
poucas pessoas que o frequentam, não libertam a “Caras”, a “TV guia”, que me
coloca a par da grelha televisiva, e a “Hola” espanhola.
Geralmente nestes passeios cruzo-me com gente, alguma de quem realmente
gosto e me permito conversar, para dar uso á suprema característica que nos
distingue do restante reino animal, o raciocínio…isto se não falarmos de
futebol, nem de política, nem de algum reallity show e afins, fazendo-nos ser
mais irracionais do que um ser unicelular…apesar de fugir do tema “Futebol”,
quando encontro um amigo específico de adolescência, cuja capacidade de
raciocínio equivale à de uma pedra…não desço tão baixo!
O trajecto da caminhada,
geralmente é o mais rural possível, dentro de uma cidade, para escapar à
confusão do trânsito e ao roncar dos carros, prova da capacidade inventiva do
Homem, que lhe permitiu viver nos meios mais hostis, enquanto o resto da
bicharada teve que se adaptar…ainda só estranho os rasgos de primitivismo na
comunicação, com buzinadelas, insultos e expressões amacacadas!
Mas se dúvidas houver desta superioridade, elas dissipam-se no
regresso a casa, quando passo por miúdos, ainda em estado ligeiramente
primitivo. Brincam na rua, andam de bicicleta, jogam à bola, em vez de estarem
enfiados num quarto a provocar um holocausto num jogo de computador, e em vez
disso, andam à fisgada à passarada, mostrando a supremacia do Homem sobre o
resto dos animais. Entusiasmado, quando o Pantufa, um cão simpático de rua, se
aproxima de mim a dar ao rabo, afasto-o com um pontapé – Sou o maior! – penso.
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