Nos últimos dias falou-se
tanto no fim do mundo, que eu próprio, pouco ligado a profecias e a ditos sem
fundamento, cheguei a acreditar!
Eram as notícias dos jornais e
telejornais que falavam do “Fim do Mundo” de forma ambivalente. Por um lado
apresentavam o dito como uma profecia, mas por outro como sendo um cálculo com
as bases científicas conhecidas há séculos atrás por essa civilização
impressionante, os Maias, deixando espaço à dúvida!
Trazemos às costas a carga
cultural de um povo que há poucas décadas era pouco ou nada instruído e que
assistia a missas em latim. O obscurantismo e o medo eram dominantes, abrindo
espaço amplo para o duvidoso e tomando-o como certo, sem sentido crítico.
Nos nossos dias, as notícias
pouco claras ainda levantam receio. Ouvi algumas pessoas afirmarem com certeza
– O fim do mundo…Tretas! – mas depois terminavam a sua dissertação com um – E
se for?!
Quando foi transmitido um
programa no “National Geographic” sobre o Fim do Mundo e como algumas pessoas
se preparavam para o mesmo, entrei em choque. Nesse momento convenci-me que ia
mesmo acontecer! O que eu recusei, deixei de fazer, deixei de dizer…mas nem
tudo é mau, como é o Fim, posso ser excêntrico sem me ter saído o euromilhões!
O tempo escasseava, o Fim do
Mundo era já no dia 21/12. Sem perder tempo telefonei para um portista, bom
amigo, com quem tinha discutido por ele ter dito que o Sporting até jogava bem!
- Trim, trim,…
- Estou sim?! – pergunta o amigo
portista.
- Sou eu! Desculpa ter
discutido contigo por causa do Sporting!
- Deixa lá, já passou! Agora
concordas que o teu Sporting até joga benzinho?
– pergunta o amigo portista.
- Queres trocar? – respondo
com outra pergunta.
O amigo portista desligou sem
me responder! Chateado, enviei-lhe uma mensagem a dizer que nunca mais lhe
falava! Marquei a minha posição a poucas horas do Fim do Mundo.
Estabeleci novo contacto.
Liguei ao meu amigo Joaquim.
- Quim, amanhã vou jogar!
- Mas…mas tu já estás bom da
tua rutura muscular?!
- Não! Mal consigo andar, mas
amanhã vou! – respondo-lhe.
Há três semanas atrás, depois
de fazer uma rutura na coxa num jogo de futebol, rasguei-me completamente no
dia seguinte, noutro joguinho de bola! Fui obrigado a parar!
Mas não ia perder a
oportunidade de praticar a atividade desportiva que mais gosto antes do mundo
acabar!
Depois de conversar com o
Quim, voltei-me para o discurso que tinha preparado para dissertar nessa noite,
numa cerimónia de gala, onde estariam colegas de trabalho e administração, e
troquei algumas palavras!
Nessa noite, as palavras
trocadas pareciam tiros disparados em todas as direções. Houve muito murmurinho
e nenhum aplauso. Nessa noite mais ninguém me falou, mas também não me
preocupei porque no dia seguinte ia jogar à bola e no depois seria 21/12, o Fim do
Mundo!
O dia 21/12 chegou. Iria
passá-lo em casa, a lesão piorara no dia anterior aos trinta segundos de jogo e
não me permitia uma locomoção independente! Não tinha importância, aproveitei
para empanturrar tudo do que gosto até que o Fim chegasse!
Chegou a meia noite, já
estamos no dia 22/12, o Fim do Mundo não chegou e sinto a barriga a rebentar!
Devido a medos e crenças, o
que acabou foi o meu mundinho, zanguei-me com um amigo, piorei a minha lesão,
segunda-feira vou ser despedido e estou prestes a ter uma congestão!
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