No parque estão dois palanques montados,
cada um deles com as cores do seu respectivo partido. Neste cenário, há o facto
bizarro dos dois comícios estarem marcados para a mesma hora!
À espera dos discursadores, candidatos a
um cargo que interfere directamente com a vida das pessoas dessa terra de que
não me lembro o nome, e nem sei se existe, está a população ainda mais bizarra
do que o cenário.
Como não me lembro do nome da terra e
nem sei se existe, embora julgue que fique próximo da Trofa, chamemos à
população de jupiterianos.
Os jupiterianos são fervorosos adeptos
de futebol, cada um com o seu clube, uns gostam mais de Magnum e outros de
Perna de Pau, outros ainda não trocam um belo iogurte líquido por nenhum dos
outros gelados, há quem goste de homens ou mulheres e quem goste dos dois, há
quem goste de ginásio e quem goste de estar parado, há quem goste de se
indignar e quem goste de meditar,…, mas o que os distingue dos habitantes das
outras terras, apesar de não ter a certeza de esta pertencer ao nosso país, é o
facto de nenhum jupiteriano ter partido político e gostar de ouvir a realidade
e as verdades dos seus políticos…apreciam neles a honestidade!
Nesta noite de discursos, os
jupiterianos não estão distribuídos pelos palanques, mas aproximam-se do que
está próximo da figueira, onde começa a horas o discurso de um dos candidatos.
Após a apresentação pessoal, este
candidato, chamemos-lhe de “A”, traça a história da freguesia, para dar a
perceber em que sentido a terra evoluiu em consequência das políticas tomadas.
Ao palanque próximo da pereira chega o candidato “B”, atrasado e sem audiência
para quem falar, mesmo assim arrisca: – Boa noite!
Por norma, os jupiterianos não se deixam
distrair por atrasados, mas mesmo assim o Antunes olha para a esquerda em
direcção ao palanque próximo da pereira e quando avista o candidato “B”, pensa
– “Seu anormal! Eu que perdi uma perna numa aposta estúpida, um braço num
acidente de trabalho e uma mão por causa de outra aposta ainda mais estúpida,
sou obrigado a andar ao pé-coxinho e por isso tomo horas para não me atrasar, mas
tu…francamente!” – após este pensamento indignado, Antunes volta-se para a frente
e prende a sua atenção ao candidato “A”.
Este continua o discurso apresentando o
cenário actual, que compara a uma pega de touros em que os forcados estão de
costas para o animal – Temos que nos virar de frente! – diz.
Os jupiterianos acenam em
concordância, e o Sr. Antero ainda com mais vigor, motivado pela própria experiência,
lembrando o dia em que ao atravessar a estrada, chamaram-no, volta-se, e leva por
trás uma trombada de uma motorizada. “Parecia um touro”, diz sempre que lembra
o acontecimento. Desde então nunca virou costas ao atravessar a estrada.
Do outro lado, o candidato “B”
apercebendo-se que não iria conseguir competir em seriedade, tenta do seu
palanque chamar a atenção, dizendo: – Comigo, vai entrar dinheiro fresquinho na
casa de todas as pessoas, logo pela manhã, juntamente com o pão quentinho!
Ao ouvirem isto, uma parte dos
jupiterianos, que prestavam o máximo de atenção ao candidato “A”, não resistiram
em olhar para o outro palanque, tendo alguns exclamado: – O quê?!
Mas perante tamanha baboseira,
a atenção revirou-se novamente para o palanque próximo da figueira.
- …e as pessoas vão deixar de
pagar renda! – dispara o candidato “B”.
Estas duas baboseiras
seguidas, turvou de tal forma a mente de alguns jupiterianos, que uma parte
considerável deslocou-se do palanque próximo da figueira para o próximo da pereira,
para ouvir o candidato “B”, que tenho a certeza que existe.
Mas o candidato “A”, que acho
que não existe, agora com menos gente a ouvi-lo, mantinha o seu rigor,
explicando o que se podia fazer com aquilo que se tinha, enquanto o candidato
“B”, no seu palanque, garantia haver condições para aumentar o fim-de-semana
para três dias e aumentar os vencimentos. Ao ouvir isto, os que ainda se
mantinham magneticamente agarrados em frente ao palanque próximo da figueira,
mudaram-se para o outro lado, ávidos para ouvir quem lhes
apregoava ilusões em forma de realidade, com excepção do Antunes!
- A vida não vai ser fácil! –
diz o candidato “A”!
- Comigo, todos vão ter uma
vida perfeita! – declara o candidato “B”.
Ao ouvir isto, Antunes “pé-coxeia”,
como nunca tinha “pé-coxeado” antes e baba-se em frente ao palanque do
candidato “B”.
Pela cabeça de cada
jupitureano, passava o que cada um entendia como “vida perfeita”, e abraçavam-se
comentando uns com os outros “Agora é que vai ser!”
Imaginação sem limites!
ResponderEliminarAquele abraço e votos de boa semana!