- Logo vou jantar com a A, com a B, com a C, com a D e
com a E. Queres vir? Não queres pois não?
- Não. Vai tu! – respondo.
A pergunta a condicionar a
resposta, poderia ser apenas a transmissão do facto, “Logo vou jantar com as
minhas amigas e tu não vens.”.
Nos últimos tempos as minhas
noitadas de sábado são no máximo até ás sete e meia da tarde, quando prolongo
um pouco mais o meu treino no ginásio, mas hoje, só, seria diferente e a
noitada seria de arromba, quem sabe até à meia noite!
Depois de jantar vou para o
quarto de vestir onde me preparo: cinto camel, da cor dos sapatos com fivela,
calças de ganga de modelo bonito, camisa e blazer azul.
Olho-me ao espelho, a cara
brota um sorriso e sinto-me em modo “pito”.
- Vou sair. – digo a mim mesmo
e de imediato pergunto-me – Mas como é que se sai?
Já passou muito tempo desde os
meus tempos de “morcego”... já não sei aonde ir! Tinha que perguntar.
Telefono ao meu amigo Miguel,
solteiro, que não me atende, mas mais tarde envia-me uma mensagem a dizer que
está numa festa em Santo Tirso. De seguida telefono ao meu amigo Nando,
divorciado e a morar em Famalicão...não atendeu e iria telefonar-me no dia
seguinte...não o atendi! Deveria querer saber aonde se vai ao domingo à tarde,
vou-lhe dizer amanhã, segunda feira!
Saio de casa e ao entrar no
carro decido ir a Santo Tirso, ao fundo da minha rua mudo de ideias e, decidido, corto
para Famalicão e ao cimo da estrada faço inversão de marcha e retomo a estrada
para Santo Tirso.
Chegado à cidade estaciono o
carro no sítio do costume, quando lá vou durante o dia, e dirijo-me para o
centro, uma zona de bares e esplanadas. O tempo estava agradável e muita gente
passeava na rua, novos, velhos, grupos de amigos e casais, alguns a correr num
jogging nocturno e outros a passearem os cães. Decidi-me por uma esplanada, dirijo-me ao balcão e peço um café à menina que me atende, que sorriu...e eu
sorri e sentia-me...bem...tinha vinte anos outra vez e a aliança no dedo anelar
era mais um acessório como o cinto camel!
Paguei e saí...depois de cinco
passos, bem contados, olhei para trás e
a miúda estava a atender outra pessoa, de perfil para mim, quase que olhou...a
noite era minha!
De regresso à Trofa e com o
ponteiro das horas quase a bater as doze, passo no café/bar Malte, que fica a
caminho de minha casa e que apenas conheço na dimensão café, quando lá passo
durante o dia para tomar...café.
Havia um concerto acústico e
pela primeira vez, neste espaço, peço uma cerveja. Encontrei gente conhecida que
não encontro durante o dia e que os conheci, há muitos anos, depois das vinte e
três horas. Ao balcão e convicto que elas não me queriam ver só de costas olhei
para as mesas...as miúdas estavam felizes, bem acompanhadas pelos namorados e
amigas!
Num momento em que olhava para
as minhas mãos, sinto um chapadão nas costas acompanhado por um viçoso:
- CALHEEEIIIIIROSSS!
Era o meu amigo Mário Velhote,
personagem que conheço há mais de vinte anos e já na altura tinha este nome. O
Mário é simpático, nas discotecas passava o tempo na pista a dançar (para mim a
tentar não cair) e sempre que o encontro, desde o dia que o conheci, está bêbado.
Na conversa possível, entre alguém
sóbrio e um amigo bêbado, o Mário diz de forma bem audível para quem quisesse
ouvir:
- O Calheiros era o rapaz mais
bonito da Trofa!
Com a frase fiquei mais
embriagado que o próprio Mário, e como um adolescente numa saída de sábado à
noite, digo-lhe:
- Queres curtir comigo?
O Mário, que só gosta de
cervejas, vira-me costas e vai-se embora!
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