Anténio Costa, nascido António há 41 anos, teria sido Rosa
Costa, caso tivesse nascido menina.
Filho do Sr. Costa, um verdadeiro pinga-amor do seu
tempo, que ainda hoje relembra, “Nos bailaricos dançava com elas todas...”, não
herdou o jeito para dançar do seu progenitor. Quando se aproxima um casamento
ou uma outra qualquer festividade, em que seja expectável Anténio dançar,
treina uns passos com a mãe e depois evolui para o treino com a vassoura.
Numa dessas festas, no caso um casamento a quem lhe foi
prometida uma dança, os treinos em casa começaram nesse mesmo dia, sempre
supervisionados pelo pai.
A mãe sempre se esforçava para lhe ensinar
convenientemente os melhores passos para o filho arranjar moça, da mesma forma
que foi seduzida por um “Paso doble”
do Sr. Costa há uma décadas atrás num arraial de Verão. Mas uma observação de
Anténio no treino de dança ia provocando
o divórcio dos pais:
- Ó pai! A mãe dança melhor do que você.
- O que é que disseste rapaz?! – pergunta o Sr. Costa,
resmungão.
- O que tu ouviste! – Diz a mãe em defesa do seu menino.
O treino de dança terminou ali.
Anténio senta-se e assiste à discussão dos pais, com um
sorriso, sem saber porquê!
“Ainda vou acabar em casa sozinho”, pensou, quando pouco
antes a mãe pensava, “É desta que ele vai arranjar moça”.
Lembro-me de ouvir, “Fizemos uma casa tão grande a pensar
nos filhos e depois nos netos...”, mas esta preocupação dos pais era o que
menos preocupava o filho.
No passado, Anténio, ainda António, embeiçado por uma
rapariga entra para o coro da sua freguesia onde ela era soprano. Depois de lhe
berrar uma área e pensar que tinha estragado tudo, contra tudo o que fazia
prever ela convida-o para lancharem no dia seguinte à tarde, estragando tudo!
- Amanhã, não posso! – diz, depois de olhar para a agenda
do telemóvel, prosseguindo – Vou jogar volei para a praia com os meus amigos.
- Eu posso ir? – diz a sua paixão em si bemol
- E sabes jogar? – pergunta António em ré maior.
- Não. – responde a pretendida com um acompanhamento de
ferrinhos.
Ele, ainda António, nunca mais pôs os pés no coro...não
se pode amar alguém que não joga o mesmo desporto.
Chega o dia do casamento e Anténio, que ficou assim
conhecido quando ao fazer uma assinatura electrónica num curso on-line alemão o
sistema trocou o “ó” por “é”, na hora de abertura da pista está sentado a
contemplar algo que não está ali.
- Vamos dançar?...Vamos dançar?...Vamos dançar?
Anténio “desperta” e à sua frente está a rapariga que lhe
prometeu uma dança.
- Sabes andar de bicicleta? – pergunta.
Anténio, ainda no tempo em que era António, com o coração
dorido, deixou o volei e dedicou-se ao BTT, achando mais fácil encontrar
raparigas que gostassem e soubessem andar.
- Não, Anténio, não sei andar. – responde a rapariga,
prosseguindo – Só gosto e jogo volei, principalmente de praia. E então! Vamos
dançar?
Ao ouvi-la, Anténio quase que cai da cadeira e
responde-lhe.
- Não posso, dói-me o coração. – responde.
- O quê? – contra-pergunta a rapariga.
- Torci o tornozelo, não posso dançar.
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