Com espanto, um dia destes, li
em roda pé no noticiário do “Porto Canal”, que um idoso foi detido por
maltratar a esposa.
Sou contra a violência, mas a
favor da história e das tradições, daquelas que nos ensinam sobre nós, como
povo, e nos transportam para tempos idos...
Estes casais idosos são uma
verdadeira lição de história viva, desde a forma como a esposa se passeia sempre
dez metros atrás dele, aos insultos que ouve por tudo e por nada e aos
“chapadões” que leva em casa. Esta forma de vida manteve-se inalterada desde
tempos imemoriais, resistindo ao próprio tempo e a tudo o que ele transforma…
…Até que há pouquíssimas
décadas, as tendências no casal foram-se modificando! Menos filhos, mais
divórcios, mais gestos de carinho, o homem deixou de ir para a tasca, as
mulheres começaram a ir para os bares com as amigas,…, tudo pior!
Mas certamente a idosa
sente-se uma mulher abençoada por ter um homem com H grande, como aquela senhora
idosa de Braga que além das agressões físicas, o marido idoso ainda a
acorrentava quando se ausentava.
Neste último caso, apesar das
denúncias da vizinhança, junto da GNR, a idosa nunca se queixou, não entendendo
a ciumeira das vizinhas, por esta ter um homem a sério!
Esta espécie de casal é do
mais típico que temos, observo-os com o mesmo encanto com que aprecio uma dona
Elvira. Existem, ainda rolam, mas cada vez são menos e um dia só os veremos em
fotografia ou filme!
Estes casais são um símbolo,
como o são o “Galo de Barcelos”, as “Papas de Sarrabulho”, a expressão “Aqui
d’El Rey”,… ou o “Zé Povinho”. O “Zé Povinho” que todos apreciamos e achamos
graça, representa muito destes casais…do povinho!
Para mim, deter o Sr. Idoso,
que, como quase todos os senhores idosos, desenfreadamente e de forma muito
própria demonstram o seu carinho pela Sra. Idosa à “lapada” ou aos berros, é o
mesmo que deter o “Galo de Barcelos”, condenar as “Papas de Sarrabulho” a cinco
anos de cadeia, ou nas altas instâncias divinas, Bordalo Pinheiro ficar sujeito
a apresentações periódicas, num qualquer quartel do céu!
Se por esse país fora temos
estátuas de reis, políticos, desportistas, heróis e anti-heróis, porque não uma
do idoso bom marido?
Porque não, à semelhança do
Fado, candidatar o “Casal Idoso Português” a Património Imaterial da Humanidade
e, em tempos de crise, aproveitá-lo turisticamente?!
À semelhança do Burro Azinino,
quase caído em extinção, e recuperado no Nordeste Transmontano para passeios
turísticos, deveríamos revitalizar esta estirpe de casais e promover visitas
turísticas aos seus lares, atraindo grupos de estrangeiros, principalmente no
Inverno, época alta, em que o idoso, na tasca, bebe mais para aquecer,
depositando mais chapadões na sua humilde esposa, quando chega a casa!
Não entendo como há pessoas
que se insurgem contra esta violência, denunciando o que durante séculos foi
tradicionalmente consentido e aceite, dando origem ao ditado “Entre marido e
mulher, não se mete a colher!”…não se entende como há pessoas que denunciam a
violência nas touradas, sendo esta uma forte tradição em Portugal.
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