domingo, 10 de fevereiro de 2013

Tradições.


Com espanto, um dia destes, li em roda pé no noticiário do “Porto Canal”, que um idoso foi detido por maltratar a esposa.
Sou contra a violência, mas a favor da história e das tradições, daquelas que nos ensinam sobre nós, como povo, e nos transportam para tempos idos...
Estes casais idosos são uma verdadeira lição de história viva, desde a forma como a esposa se passeia sempre dez metros atrás dele, aos insultos que ouve por tudo e por nada e aos “chapadões” que leva em casa. Esta forma de vida manteve-se inalterada desde tempos imemoriais, resistindo ao próprio tempo e a tudo o que ele transforma…
…Até que há pouquíssimas décadas, as tendências no casal foram-se modificando! Menos filhos, mais divórcios, mais gestos de carinho, o homem deixou de ir para a tasca, as mulheres começaram a ir para os bares com as amigas,…, tudo pior!
Mas certamente a idosa sente-se uma mulher abençoada por ter um homem com H grande, como aquela senhora idosa de Braga que além das agressões físicas, o marido idoso ainda a acorrentava quando se ausentava.
Neste último caso, apesar das denúncias da vizinhança, junto da GNR, a idosa nunca se queixou, não entendendo a ciumeira das vizinhas, por esta ter um homem a sério!
Esta espécie de casal é do mais típico que temos, observo-os com o mesmo encanto com que aprecio uma dona Elvira. Existem, ainda rolam, mas cada vez são menos e um dia só os veremos em fotografia ou filme!
Estes casais são um símbolo, como o são o “Galo de Barcelos”, as “Papas de Sarrabulho”, a expressão “Aqui d’El Rey”,… ou o “Zé Povinho”. O “Zé Povinho” que todos apreciamos e achamos graça, representa muito destes casais…do povinho!
Para mim, deter o Sr. Idoso, que, como quase todos os senhores idosos, desenfreadamente e de forma muito própria demonstram o seu carinho pela Sra. Idosa à “lapada” ou aos berros, é o mesmo que deter o “Galo de Barcelos”, condenar as “Papas de Sarrabulho” a cinco anos de cadeia, ou nas altas instâncias divinas, Bordalo Pinheiro ficar sujeito a apresentações periódicas, num qualquer quartel do céu!
Se por esse país fora temos estátuas de reis, políticos, desportistas, heróis e anti-heróis, porque não uma do idoso bom marido?
Porque não, à semelhança do Fado, candidatar o “Casal Idoso Português” a Património Imaterial da Humanidade e, em tempos de crise, aproveitá-lo turisticamente?!
À semelhança do Burro Azinino, quase caído em extinção, e recuperado no Nordeste Transmontano para passeios turísticos, deveríamos revitalizar esta estirpe de casais e promover visitas turísticas aos seus lares, atraindo grupos de estrangeiros, principalmente no Inverno, época alta, em que o idoso, na tasca, bebe mais para aquecer, depositando mais chapadões na sua humilde esposa, quando chega a casa!
Não entendo como há pessoas que se insurgem contra esta violência, denunciando o que durante séculos foi tradicionalmente consentido e aceite, dando origem ao ditado “Entre marido e mulher, não se mete a colher!”…não se entende como há pessoas que denunciam a violência nas touradas, sendo esta uma forte tradição em Portugal.

Quando a tradição impede que o ser humano evolua e o mantém, em termos de comportamento, tão primitivo como há séculos ou milhares de anos atrás, aí, a tradição deixa de fazer sentido…menos o casal idoso! 

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