Desde pequenino sempre gostei
de música, mas nunca dei música a ninguém, nem que me pedissem, e também nunca
gostei que me a dessem…não reajo bem, pronto!
Perante tal facto, e como não
ando a reboque da opinião dos outros, sempre fui aos concertos que realmente
queria assistir e nunca fui por arrasto dos meus amigos ouvir os artistas que
não queria, podendo dar-se o caso de adormecer e ressonar ou até assobiar,
incomodando quem tenha ido assistir por gosto!
Também nunca gostei de ir à
missa, tirando aquela vez que por malandrice, com outros amigos, fomos jogar às
cartas! Mas o facto de não acreditar na instituição “Igreja”, isso não me dava,
nem aos meus “camaradas”, o direito de rebeldia para com o padre e muito menos para
com os crentes que estavam na cerimónia nesse fim de tarde!
Voltando à música, nunca me
esqueço dos finais de tarde de domingo, quando era criança, em que assistia ao
“Top +”, e ficava a par dos hits
internacionais, onde podia acompanhar o número de semanas que uma música
conseguia manter-se no primeiro lugar!
Mas a verdade é que não ficava
a conhecer o reportório de nenhum cançonetista! Do Elton John, sabia que
cantava a “Nikita” (muitas semanas em primeiro lugar); mais tarde fiquei a
saber que cantava “Candles in the wind”, mas para isso teve que morrer uma
princesa; os Europe cantavam “Final countdown”,… ,as únicas excepções foram os
Modern Talking, grupo alemão, que teve várias músicas no top, dando-me a
possibilidade de conhecer um pouco melhor este duo, que, na altura com pouco
mais de 10 anos, achava muito jeitoso e os britanicos Wham, liderados por
George Michael, que eu achava o máximo por aparecer nos video clips, sempre
rodeado de belas raparigas…e afinal…!
Mas neste top nunca entrava
nenhuma música portuguesa! A primeira de que tenho memória é “So do I”, cantada
por Paulo Gonzo.
Esta razão fez-me ir à procura
de cantores e grupos portugueses, para além dos mais populares, como Marco
Paulo, Carlos Paião, Cãndida Branca Flôr,…
Foi nessa altura que descobri
GNR, Trabalhadores do Comércio, Heróis do Mar (dos melhores),…, Sérgio Godinho
e Zeca Afonso!
Este último, para mim o
melhor, com músicas e letras de encantar, para mim, criança, que falavam de
gente, de animais, de vampiros,…
Com o tempo e através do que
ouvia dos mais velhos, apercebi-me de que as letras falavam das gentes e das
várias formas que as pessoas podiam tomar. Apercebi-me de que falavam contra um
regime, o Estado Novo, de que só tinha ouvido falar! Caiu quando tinha
apenas três meses.
A música de Zeca Afonso surgiu
como contra poder a um regime, que quer se goste ou não, era composta por
políticos a sério, com uma estratégia e um rumo para o país, quer se
concordasse quer não! Salazar morreu pobre e Marcelo Caetano não deixou fortuna
para os filhos, sobrinhos,…
O meu pai e a sua geração,
maioritariamente, opunham-se ao regime e apreciavam as letras de Zeca Afonso,
que os embalava num ideal para um país que eles queriam melhor! Todo o cenário
pré 25 de Abril foi um cenário maior da nossa história recente, com
intervenientes a sério, e Zeca Afonso era um deles.
Continuo a gostar de ouvir as
pessoas, menos as que discutem durante três semanas se o Ronaldo é melhor do
que o Messi, principalmente as mais velhas e aquela geração do meu pai que
ouvia Zeca Afonso e se sente defraudada com o que se seguiu! O pós 25 de abril
abriu portas ao político Playmobil,
um político que se auto monta, encaixando as peças de Lego que melhor imagem lhe dá para iludir o povinho, simulando
seriedade e competência, para encher os bolsos e os dos seus!
O nosso fraco sentido de
democracia manteve-nos adormecidos durante trinta e seis anos de “assalto”(mais
três de PREC), e agora continua fraco, quando indivíduos interrompem quem está
a falar, goste-se ou não, e não deixam ouvir quem quer ouvir, entoando
“Grândola, vila morena”.
Proponho que cantem outras
músicas, caso contrário, as novas gerações, que não se derem ao trabalho de
pesquisar quem foi Zeca Afonso e de conhecer o seu reportório, pensam que Zeca
foi um artista de apenas um hit, ao
estilo de Samantha Fox, com o “Touch me”!
Tenho quase a certeza de que
Zeca Afonso, essa figura maior, nesta altura em que se comemora a sua morte,
está a revolver-se no túmulo, por se cantar a sua música dirigida a políticos
de brincadeira, de baixo calibre, como o Ministro Relvas!
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