domingo, 24 de fevereiro de 2013

“Grândola”.


Desde pequenino sempre gostei de música, mas nunca dei música a ninguém, nem que me pedissem, e também nunca gostei que me a dessem…não reajo bem, pronto!
Perante tal facto, e como não ando a reboque da opinião dos outros, sempre fui aos concertos que realmente queria assistir e nunca fui por arrasto dos meus amigos ouvir os artistas que não queria, podendo dar-se o caso de adormecer e ressonar ou até assobiar, incomodando quem tenha ido assistir por gosto!
Também nunca gostei de ir à missa, tirando aquela vez que por malandrice, com outros amigos, fomos jogar às cartas! Mas o facto de não acreditar na instituição “Igreja”, isso não me dava, nem aos meus “camaradas”, o direito de rebeldia para com o padre e muito menos para com os crentes que estavam na cerimónia nesse fim de tarde!
Voltando à música, nunca me esqueço dos finais de tarde de domingo, quando era criança, em que assistia ao “Top +”, e ficava a par dos hits internacionais, onde podia acompanhar o número de semanas que uma música conseguia manter-se no primeiro lugar!
Mas a verdade é que não ficava a conhecer o reportório de nenhum cançonetista! Do Elton John, sabia que cantava a “Nikita” (muitas semanas em primeiro lugar); mais tarde fiquei a saber que cantava “Candles in the wind”, mas para isso teve que morrer uma princesa; os Europe cantavam “Final countdown”,… ,as únicas excepções foram os Modern Talking, grupo alemão, que teve várias músicas no top, dando-me a possibilidade de conhecer um pouco melhor este duo, que, na altura com pouco mais de 10 anos, achava muito jeitoso e os britanicos Wham, liderados por George Michael, que eu achava o máximo por aparecer nos video clips, sempre rodeado de belas raparigas…e afinal…!
Mas neste top nunca entrava nenhuma música portuguesa! A primeira de que tenho memória é “So do I”, cantada por Paulo Gonzo.
Esta razão fez-me ir à procura de cantores e grupos portugueses, para além dos mais populares, como Marco Paulo, Carlos Paião, Cãndida Branca Flôr,…
Foi nessa altura que descobri GNR, Trabalhadores do Comércio, Heróis do Mar (dos melhores),…, Sérgio Godinho e Zeca Afonso!
Este último, para mim o melhor, com músicas e letras de encantar, para mim, criança, que falavam de gente, de animais, de vampiros,…
Com o tempo e através do que ouvia dos mais velhos, apercebi-me de que as letras falavam das gentes e das várias formas que as pessoas podiam tomar. Apercebi-me de que falavam contra um regime, o Estado Novo, de que só tinha ouvido falar! Caiu quando tinha apenas  três meses.
A música de Zeca Afonso surgiu como contra poder a um regime, que quer se goste ou não, era composta por políticos a sério, com uma estratégia e um rumo para o país, quer se concordasse quer não! Salazar morreu pobre e Marcelo Caetano não deixou fortuna para os filhos, sobrinhos,…
O meu pai e a sua geração, maioritariamente, opunham-se ao regime e apreciavam as letras de Zeca Afonso, que os embalava num ideal para um país que eles queriam melhor! Todo o cenário pré 25 de Abril foi um cenário maior da nossa história recente, com intervenientes a sério, e Zeca Afonso era um deles.
Continuo a gostar de ouvir as pessoas, menos as que discutem durante três semanas se o Ronaldo é melhor do que o Messi, principalmente as mais velhas e aquela geração do meu pai que ouvia Zeca Afonso e se sente defraudada com o que se seguiu! O pós 25 de abril abriu portas ao político Playmobil, um político que se auto monta, encaixando as peças de Lego que melhor imagem lhe dá para iludir o povinho, simulando seriedade e competência, para encher os bolsos e os dos seus!
O nosso fraco sentido de democracia manteve-nos adormecidos durante trinta e seis anos de “assalto”(mais três de PREC), e agora continua fraco, quando indivíduos interrompem quem está a falar, goste-se ou não, e não deixam ouvir quem quer ouvir, entoando “Grândola, vila morena”.
Proponho que cantem outras músicas, caso contrário, as novas gerações, que não se derem ao trabalho de pesquisar quem foi Zeca Afonso e de conhecer o seu reportório, pensam que Zeca foi um artista de apenas um hit, ao estilo de Samantha Fox, com o “Touch me”!
Tenho quase a certeza de que Zeca Afonso, essa figura maior, nesta altura em que se comemora a sua morte, está a revolver-se no túmulo, por se cantar a sua música dirigida a políticos de brincadeira, de baixo calibre, como o Ministro Relvas!

Proponho que se cante aos nossos políticos a música de Carlos Paião, “Em playback”, já que eles só abrem a boca para fazerem ouvir a política ditada pelos outros!

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