Vivia-se o fervor da campanha
eleitoral.
Todos os candidatos tinham a
perfeita noção do estado do país. Cada um deles tinha o seu projecto e programa
eleitoral, todos diferentes, mas cada um deles feito a pensar no melhor para a
população.
Em todos os comícios de cada
candidato, estava presente um juiz, pago a peso de ouro, que ligava a máquina
detectora de mentiras ao candidato ao “poder”, durante os discursos! Por cada
mentira, a máquina emitia de forma bem audível a palavra-passe “ALDRABÃO”, que
dava o sinal para o juiz, pago a peso de ouro, mostrar o cartão vermelho e
expulsar o candidato e todo o seu partido da campanha eleitoral!
Estes juízes, pagos a peso de
ouro, também acompanham os candidatos em visitas a escolas, lares,…, e feiras.
Por cada sorriso dirigido a uma criança ou beijo numa peixeira, que não sejam
sinceros, os candidatos vão acumulando infracções, correndo o risco de não se
poderem candidatar durante os próximos 20 anos! Nestas ultra maratonas
eleitorais são muitos à partida e raros à chegada, graças ao juiz…pago a peso
de ouro…que elimina, na altura certa, os que iam afundar o país!
Estou a assistir a um desses
comícios e a máquina dispara, “ALDRABÃO”, o juiz saca de cartolina vermelha e
dá ordem de expulsão ao candidato, eu olho para o lado e vejo a miúda mais gira
da freguesia a correr para mim de braços abertos…
Tititititi, tititititi,
tititititi,…!
Assustado o meu corpo
estremece! Caio de uma dimensão para outra, olho para o lado e vejo a miúda
gira deitada na cama…e aquele despertador continua a assustar-me!
- Que raio de sonho! – suspiro
baixinho.
Enquanto tomo o pequeno-almoço,
na televisão aparece um bandido, mesmo bandido, que, mesmo preso, é candidato
autárquico! Num raro lampejo mental aquela hora da manhã, tive uma ideia
brilhante, “Vou criar e fazer parte de uma lista encabeçada pelo Ronfe!”.
Ronfe é um burro Azinino, que
pasta num campo em frente a minha casa, propriedade de um senhor amigo, e tenta
montar tudo o que lhe aparece…Ronfe é o candidato perfeito! A troco de um lugar
na lista, o dono do Ronfe, cedeu-mo.
Abre a época de campanha. Os
comícios sucedem-se uns atrás dos outros e como não há juiz nem máquina
detectora de mentiras, elas sucedem-se umas atrás das outras, os beijos e
sorrisos encenados brotam como água da fonte….Ronfe lambusa toda a gente, mas
está a perder terreno. Enquanto eu, porta voz do Ronfe, prometo sonhos, os
outros candidatos prometem delírios e denigrem a imagem de Ronfe dizendo que
ele não tem passado político!
Chega o último dia de campanha
e as sondagens dão o último lugar a Ronfe. Num esforço financeiro final, distribuem-se canetas com um assobio que faz de tampa e bandeiras e
autocolantes com a fotografia de Ronfe e o dizer – “Ronfe é burro, mas não é
parvo”, e em total desespero bebo uma garrafa de whisky e “snifo” heroína, para
o discurso final!
No domingo, ao final da tarde,
Ronfe é declarado vencedor. Dizem que a promessa, feita no discurso final, de
fazer passeios intergalácticos, nos autocarros da “Pacense”, foi decisiva!
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