Tive a infelicidade de ser uma
criança normal!
Não gostava das aulas, mas
gostava do recreio e de aprender; gostava do Dartacão e do Tom Sawyer, andava
de fisga enfiada na meia, não percebia porque as raparigas não eram iguais aos rapazes,
nas férias brincava de sol a sol, na rua, com os amigos, não percebia o que era
a política e o que gostava mesmo… era de jogar à bola.
Novinhos e movidos por esse gosto
“de jogar à bola”, eu e os meus amigos começámos a jogar futebol nos “iniciados” do clube da minha terra, o Trofense, ao contrário de outras crianças, estas mais
estranhas, que não tendo gosto nem jeito para a bola, juntavam-se em volta de
um “líder”, e seguiam-no sem saber porquê, mas tinham o privilégio de colar
cartazes! Estes grupos que começaram a proliferar na década de 80, na mesma
altura em que apareceram os glutões no detergente da roupa…são as “Jotas”.
Enquanto eu e os meus amigos,
sob a orientação dos nossos treinadores, dávamos o máximo em campo pela nossa
equipa e sonhávamos ser como os nossos ídolos e ganhar muito dinheiro, os
outros, além de colar cartazes, nas reuniões, gastavam o tempo a jogar ao
Monopólio. Aprendiam a comprar casas na Rua Augusta e hoteis na Rua do Ouro, a
fazer negociatas com os amigos e apagaram a “casa” da prisão e rasgaram a carta
que dizia - “vai directamente para a cadeia, sem passar pela casa de partida”! Já
nós, se infringíamos as leis do jogo, éramos penalizados. Na minha carreira
ultra-amadora de criança, acumulei 2 cartões vermelhos, por agarrar o adversário
quando este se isolava. E se o empenhamento durante a semana, nos treinos, não
fosse digno, não havia lugar para nós na convocatória, ao contrário das
“Jotas”, onde há sempre lugar para todos, nem que sejas retardado…e onde só não
aceitam pessoas em estado vegetativo, por não cumprirem o requisito de fazer a
cruz, em altura de eleições!
Agora que sou um adulto
normal, tenho a infelicidade de ser governado por gente anormal!
Lembro-me de que eu e os meus
amigos, como muitos milhares de crianças que jogavam futebol por esse país
fora, num qualquer momento deparámos-nos com a realidade que o sonho de ser
jogador não sustentava todos, apenas meia dúzia…os mais dotados. Paciência!
Continuámos a estudar e depois
a trabalhar e a descontar para um Orçamento, em que parte dele é para pagar os
“jobs for the boys”, em português “os tachos”, para os que em vez de obterem uma
profissão aprenderam a adulterar o Monopólio e ficaram à espera que lhes dessem
um curso…para nos governar!
Jovem, tens jeito para o futebol?
Esquece! Queres ser piloto de aviões? Esquece! Queres ter uma vida digna e
séria e ser respeitado por isso? Esquece! Convidaram-te para uma sociedade no
euromilhões? Esquece! Uma miúda muito rica convidou-te para casar? Esquece!
Queres ser padre? Esquece!
Nada é mais certo do que colar cartazes, não do circo
que vai à tua terra…mas de um partido político qualquer!
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