sábado, 10 de agosto de 2013

Sou portuguesinho!

Ainda o nosso primeiro rei não era rei e já conquistava território para sul, quando num determinado momento iniciou a conquista da Galiza, movido, não por um qualquer interesse estratégico maior, mas porque a sua mãe andava “metida” com um nobre galego da poderosa família Trava. Após um desaire militar contra os Mouros em Leiria, D. Afonso Henriques desistiu das pretensões a norte e concentrou o seu esforço militar para sul!
Independentemente do sentido da conquista, nasceu Portugal, o país mais à esquerda da Europa!
Com os Descobrimentos chegámos ao Brasil. Enquanto os espanhóis nos seus territórios da América, com violência impunham-se aos povos nativos, nós estávamos mais interessados no amor e em dar alguma paz.
No seguimento dos Descobrimentos na Costa de África e Ásia, em vez de malfeitorias, criámos Feitorias e o grande poeta Luís Vaz de Camões ao eternizar a epopeia portuguesa fê-la em “dez cantos” em vez de “dez centros”…nunca gostámos de dar nas vistas, com excepção dos imigrantes no mês de agosto!

Somos por natureza histórica, emocionais, um pouco românticos e …inhos!

O despertador toca. São sete da manhã e ainda vai tocar mais uma vez, às sete e um quarto. Estes dois toquezinhos do despertador são, felizmente, os meus únicos momentos de ódio ao mundo, depois, salto da cama e preparo-me para o mundo “inho”!
Quando chego ao local de trabalho, a primeira pessoa que vejo é a Dona Rosa, que faço questão de cumprimentar, não só porque mantém a minha secretária limpa, mas após o meu “Bom dia”, responde-me, ainda hoje, “Bom dia, menino…” seguindo-se sempre o desabafo de uma tragédia pessoal e termina sempre com o reconfortante “Haja trabalhinho!”.
Já sentado na minha secretária ouço: - Bom dia, Calheirinhos!
Olho para a placa afixada no meu local de trabalho e vejo escrito “José Calheiros”, de seguida desvio o olhar na direcção da voz e vejo a minha colega Teresa.
- Olá Teresinha! – Respondi em concordância, não fosse eu passar por mal disposto.
Ainda o computador está a “ressuscitar” e o meu caro colega António, já me está a convidar para no fim do trabalho irmos beber uma cervejinha. Sempre que o convite é para uma cervejinha, o próprio António sai do café “tocado” pelas várias cervejas que bebe!
Ah, já ligou! Estou a escrever a password e toca o telefone. O número não me é estranho, mas não é das minhas relações laborais…é a minha mãe.
- Logo vens comer cá a casa?! – Pergunta como que a relembrar que é sexta-feira, dia de juntar a família.
- Claro! Todas as sextas e segundas! – Respondo, sorrindo.
- Já telefonei ao teu irmão, a perguntar se ele quer carninha ou peixinho. – Diz-me.
- E ele, o que é que escolheu?
- Ele quer peixinho. E tu? – Pergunta-me.
- Pode ser peixe, também!
- O quê???
- Peixinho! Eu quero peixinho, mamã!
Após desligar o telefone, tinha que me despachar, faltam cinco minutos para uma reunião com o Carlinhos, 1,83 metros e 143 quilos. O Carlinhos é muito boa pessoa e para não ferir susceptibilidades, costumo dizer que ele está forte, um verdadeiro atleta, mas ontem num vislumbre de realismo, diz-me, “Estou gordinho”, enquanto penso para mim, “Carlinhos, tu estás um pote!”.
O resto do dia de trabalho foi passado a tentar fintar, sem sucesso, “inhos” e “inhas”. No final lembro-me que tenho que ir às compras e informo o António que não posso ir beber uma cervejinha com ele. – Que peninha! – Responde-me.
Depois da rusga pelas prateleiras do hipermercado, apresento-me na caixa para pagar.
- Tem cartãozinho da loja? – Pergunta-me a senhora da caixa.
- Ah, o cartão! – E passo-o à empregada.
- Este cartão parece mesmo o cartãozinho! – Exclama a senhora da caixa.
- E é! Esse cartão é o cartãozinho.
Após o esclarecimento e pagamento saio da superfície comercial com alguma pressa. Atrás de mim vem a correr um promotor que me apanha a entrar no carro:
 - Tem um minutinho? – Pergunta-me com um sorriso luminoso.
Este senhor pregou-me uma “seca” de meia horinha!
Chego tarde a casa dos meus pais para jantar. Olho para a mesa e não vejo o peixinho.
- Olha, não consegui ir à peixaria, por isso fiz carninha! – Explica-se a minha mãe.
- Não há problema mamã! Pior era se fosse carne ou peixe! – Respondo-lhe
No final da noite, como sempre, despedimo-nos com beijinhos!

Não me importo de ser um país à esquerda (geograficamente), que a epopeia da nossa história esteja escrita em cantos e que tenhamos resquícios de pequenez no falar.
Melhor do que falar com sotaque brasileiro, um dialecto africano ou pronúncia de leste.

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