Ajusto novamente o despertador para as
sete horas. Como sempre, a ideia é acordar cedo para aproveitar a melhor parte
da praia, a manhã.
Mal pouso o despertador na mesinha de
cabeceira, ouço um respirar arrastado e profundo. Ao pensamento de que a
Cristina já estaria a dormir, precisava de confirmação.
- Morzinho? …Morzinho?...Estás a dormir?
– pergunto, quase em segredo.
- Humnhhmmnhhhrrrrrrhh. – responde a
Cristina a uma pergunta que não ouviu e não sabe que respondeu.
Este som/resposta, que se assemelha a um
grunhido, é a certeza de que se a casa vier a baixo, ela não acorda.
Levanto-me e num instante saio de casa.
Aproveito o abrigo natural da noite e em todas as ruas da Trofa com lojas de
decoração, lojas de sapatos e hortos, coloco uma placa a dizer, “Rua em obras,
trânsito proibido. Volte daqui a três meses!”.
No final regresso a casa e já na cama,
pergunto:
Morzinho? …Morzinho?...A casa está a arder!
- Humnhhmmnhhhrrrrrrhh. – responde.
Suspiro de alívio e deixo-me adormecer!
Uns raios de luz a entrarem pela janela
entreaberta, abrem-me as pálpebras, “Já é dia!”, pensei. Olho com mais atenção
e vejo a Cristina.
- Olá, bom dia! Hoje vamos
cedinho para a praia. – diz-me ela.
- Boa… - e sem me deixar acabar de falar,
continua:
- Só tenho uma listinha pequeninha de
alguns sítios para irmos antes…fica tudo a caminho.
Depois de arranjados e pequeno-almoço
tomado, ao irmos para o carro, a Cristina comunica-me os “antros de vício” onde
quer ir, antes de irmos para a praia.
Em todas as direcções que tomámos, à
entrada de cada rua havia uma PLACA a indicar “Zona em obras”.
- É impressionante, nunca fazem nada,
aproximam-se as eleições e é obras por todos os lados! – exclama a Cristina.
- É, é! Tens toda a razão! Logo hoje que
queria ver uns lírios no horto! – respondo.
Sem alternativas, devido às obras na
minha terra, seguimos para a praia.
Às nove horas e trinta minutos, já temos
os pés na areia no sítio para colocar o pára-vento. Espeto o primeiro pau,
depois o segundo, tendo em conta a direcção e velocidade do vento e
depois…depois sou interrompido!
- Esse pau...não é melhor ficar colocado
um bocadinho mais abaixo? – pergunta a minha senhora.
- Não!
- É, é.
Desenterro o segundo pau e coloco-o um
pouco mais abaixo, segundo indicações da Cristina.
- Aqui? – pergunto.
- Não sei! Põe onde quiseres!
Estava com vontade era de ir à água. Mal
espeto o último pau do pára-vento, tiro a t-shirt e desato a correr para a
água. Como não havia mais ninguém na praia para impressionar, em vez de entrar
na água de mergulho directo, molho os pés, as pernas, os braços e depois sim,
deixo-me “desmaiar” para dentro do mar.
Quando regresso ao areal, a Cristina
ainda está vestida e de pé!
- Esqueceste-te de colocar o guarda-sol!
– diz-me.
Entretanto tinha chegado um casal novo,
que se estava a instalar um pouco mais a cima, ele a montar uma tenda e ela
sentada…e caladinha!
- Está bem, assim? – pergunto
relativamente à colocação do guarda-sol.
- Humnhhmmnhhhrrrrrrhh.
Deitei-me na toalha a apreciar o jovem
casal. A tenda que ele estava a montar parecia um prédio de três andares e ela,
sentada e sossegadinha, mantinha-se calada, certamente orgulhosa do namorado,
que monta tendas complicadas!
Estava eu embebecido com aquela imagem
romântica, quando o rapaz anuncia:
- Minha querida, a tenda está pronta!
A rapariga, de aspecto doce, levanta-se
e:
- Achas que isto tem algum jeito? Para
fazeres isto tinha montado eu!
Passaram o resto da manhã à volta da
tenda!!!
Quando olho para a esquerda está a chegar
um senhor, com a sua esposa e filha. Pousam as tralhas e, enquanto o senhor
instala dois pára-ventos e dois guarda-sóis, as mulheres vão mulher os pézinhos
e quando chegam, diz a esposa:
- Oh, Carlos! Achas que isto está bem? Muda
esse guarda-sol para aquele lado!
- Está bem! – responde o chefe de
família, resignado e adaptado à realidade.
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