domingo, 22 de setembro de 2013

José, o Vaidoso!

José sempre foi vaidoso. Esta vaidade nunca se limitou ao aspecto limpinho, mas prolongava-se na ostentação do que tinha, ou não, para se mover num meio, que na cabeça de José, naturalmente não era o seu. Com 1,75 metros tentava dar passos do mesmo tamanho, que os seus “vizinhos” de 1,85 metros!
Durante a sua vida empresarial iniciada em 1974 (é detentor de uma empresa têxtil, a “Batas de Portugal”), todo o lucro, sempre foi gasto em férias, uma casa com sete quartos, apesar do agregado familiar ser composto por quatro pessoas,…, e carros. Nem as duas crises severas porque passou, lhe fizeram parar para mudar de estratégia na empresa, nem alterou os seus hábitos, para que noutros momentos de aflição, a “Batas de Portugal”, tivesse dinheiro em caixa, para não pedir auxílio financeiro a estranhos!
Como a memória de José é curta, ele já não se lembra desses graves momentos, por isso a humildade nunca abafou, nem um pouco que fosse, o pecado mortal, a Vaidade!
Mas a esposa de José, sabendo que a “Batas de Portugal” tem cada vez menos encomendas e os mesmos custos fixos, apesar de ficar a pensar quanto lhe perguntam quanto é 2+2, facilmente se apercebeu que os lucros estavam a baixar.
Começou a perguntar ao marido sobre o estado da empresa, já que o dinheiro gasto no que era preciso e esbanjado no que não era, continuava sem travão. Perante as perguntas da esposa, José sempre afirmava, com toda a convicção do mundo, que tudo estava bem e que nada era preciso mudar na vida deles! Confiante que assim era, o ritmo das idas ao cabeleireiro, mantiveram-se, as roupas caras para os filhos, também, e José continuava a trocar de carro, sempre que um modelo novo saía!
Certo dia, seriam uns poucos antes do fim do mês, José foi levantar dinheiro com o cartão, para pagar ás funcionárias. Além de não ter dinheiro, ainda devia uma fortuna ao Banco!
Aflito e sem saber o que fazer, vai depressa para a cabeleireira, aonde estava a mulher, e:
- Não trates do cabelo nem arranjes as unhas…não há dinheiro!
Agarra-a pela mão, mete-a no carro e pergunta:
- Os nosso rapazes, onde foram?
- Estão na Fashion Store, onde está à venda aquele modelo novo de calças…caaaaras, como um raio! – responde a mulher.
José acelera em direcção á loja, onde os filhos estão a experimentar as calças e obriga-os a entregá-las.
Já em casa, explica à família que não têm dinheiro. A esposa e filhos perguntam como tal aconteceu, quando no dia anterior ele dizia que tudo estava bem!
 - Eu não sei! – responde admirado, encolhendo os ombros.
No dia seguinte, José foi ter com uma amiga de infância, a Ângela, que tinha imigrado para a Alemanha há muitos anos atrás, e estava de férias no nosso país. Ângela empresta dinheiro a pessoas em dificuldades, de toda a Europa, tendo-se inspirado na Dona Branca.
- Ângela, preciso de dinheiro. A “Batas de Portugal” faliu e a minha família também! Não percebo!
- Se não percebes, és mesmo nabo! – diz a Ângela, prosseguindo – Se gastas muito mais do que ganhas e vives com dinheiro que não é teu, um dia ias falir.
- Poça, como é que eu não percebi! – exclama, batendo com a palma da não na testa – Mas eu tenho três ou quatro vizinhos que vivem assim?!
- Vão falir ou já faliram. E Já me vieram pedir dinheiro e outros hão-de vir. – esclarece a Ângela.
A conversa continuou e José concordou que a vida que leva só cria dívida e, caso não mude, emprestar-lhe dinheiro é o mesmo que deitá-lo fora. Acordaram que José tinha que ter uma vida que desse lucro, que lhe permitisse pagar o empréstimo, para tal tinha que redimensionar a “Batas de Portugal”, mudar-se para um apartamento, vender alguns dos carros, despedir as duas empregadas domésticas,…
O empréstimo iria ser dado por partes. A Ângela não é burra e quer garantias para o seu lado.
Após a primeira "tranche", a família de José deixou a casa de sete quartos e mudou-se, não para um apartamento, mas sim para outra casa, com piscina, mas menos dois quartos. Como a casa continua grande, mantiveram as duas empregadas domésticas e venderam dois carros, para “atirar areia” aos olhos da Ângela. Quanto às mexidas na “Batas de Portugal”, estas tardavam.
Influenciado por uns vizinhos que vivem no lado esquerda da sua rua, José teimava em não reduzir o numero de funcionários, já que o volume de negócios só lhe permitia ter seis…tem quatro a mais!
Dias depois, ao cruzar-se com o Semedo, o vizinho que vive mais à esquerda na rua, este pergunta-lhe:
- Então, já recebeste mais alguma parte do empréstimo?
Quase a babar-se, José responde que sim.
- Então, não queiras mais nada com a Ângela. Fica com dinheiro e não pagues!
Novamente possuído pela alergia da “memória curta”, José esqueceu-se que ele é que pediu o dinheiro e liga para a sua “amiga”:
- Ângela? Sou eu, o José!
- Olá José, o que queres?
- Uma coisinha rápida. Vou ficar com o dinheiro que me emprestaste e não vou fazer nada daquilo com que acordámos!
Após estas palavras e ainda sob os efeitos da “memória curta” e dos conselhos dos vizinhos do lado esquerdo, José desliga o telefone e sente-se novamente Vaidoso!

José acabou a viver debaixo da ponte após a falência total da “Batas de Portugal, Sociedade Limitada”, enquanto os antigos vizinhos do lado esquerdo da rua vão-se safando, com o “enterro” dos outros!

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