Sexta-feira, pós jantar.
Enquanto via o noticiário, sempre com as mesmas notícias, sem nenhum
desenvolvimento, que me fazem pensar que o Mundo parou na parte pior do “filme”
eis o boletim meteorológico, “Para todo o fim de semana mau tempo, alerta
vermelho e laranja para todo o país e todas as barras de portos de mar fechados
à navegação.”.
Este estado de “nada de novo”,
não me surpreende e como ser básico da raça humana que sou, nada me afecta, nem
o mau tempo, porque todo o meu pensamento estava concentrado para este fim de
semana mágico, que se repete há já muitos anos. Sábado à tarde, futebolada com
os amigos e domingo de manhã, futebolada com os amigos…nada mais espectacular!
Quase no final do telejornal,
a Cristina, minha senhora, entra na sala e, como uma cientista atenta aos
fenómenos da natureza que prevê um Tsunami e alerta a população, avisa-me:
- Morzinho, o período está
para me vir!
Este alerta é dado com
meiguice, porque ela sabe que os próximos dias o ser pouco racional que uma
mulher consegue ser vai desaparecer. Perante esta notícia todas as sirenes de
perigo soaram e o verdadeiro e temido alerta vermelho foi dado. Pensei um
palavrão e disse:
- Pronto Cristina, fizeste bem
em alertar. Prometo que vou ter paciência contigo e não te deixo!
Toda esta frase soou-me a
grande mentira, porque a minha vontade era desaparecer por uma semana, a forma
mais fácil de aguentar uma mulher nestas condições! Tinha que fazer algo e ia
ser nessa noite mesmo!
Mais tarde, quando nos
deitamos, mesmo não sendo crente, mas quando o desespero aperta, agarramos-nos
a qualquer coisa, rezei a todos os santos que existem e até inventei mais
alguns a quem pedir ajuda com as minhas orações. Rezei ao Santo Edmundo do
Paranho, à Santa Clarisse da Abelheira, ao São Tone de Finzes e à Santa Natália
de Valdeirigo, dona da tasca onde costumo ir com os amigos, sábado à noite, como
quem vai à missa, depois do futebol!
Sábado de manhã, acordo e a Cristina ainda
dorme. Aproximo a minha cabeça da dela e a respiração lembra-me o assobio de
uma brisa que corre pelo mar a anunciar uma tempestade. Pelo sim, pelo não,
volto a rezar e quando me apercebo que a Cristina está a acordar, salto da cama
e vou para a cozinha. Dez minutos depois, regresso ao quarto e ela já estava desperta
e sentada na cama e… nitidamente possuída pelo castigo que Deus aplicou a Eva
por esta ter comido a maça…o período!
- Morzinho, olha o que
preparei para ti! O pequeno almoço! – digo eu, com paninhos de lã.
- Não fizeste mais do que a
tua obrigação. – responde-me autoritária, não deixando dúvidas sobre o seu
estado.
Pousei a travessa com o
leitinho e a torradinha, preparados com todo o cuidado, a medo, à beira dela.
- Então?! – pergunto, como
quem quer fazer conversa, para dispôr bem.
- Então, o quê? – responde-me,
como quem não quer conversa nenhuma.
Ela começa a tomar o pequeno
almoço e eu, como um vassalo, deixo-me estar à porta do quarto, à espera de
ordens, até que:
-A TORRADA ESTÁ QUEIMADA E O
LEITE ESTÁ MUITO QUENTE. DESAPARECE.
Esta última palavra foi “doce”
para os meus ouvidos…e desapareci por uma semana. Quando cheguei:
- Aonde foste Morzinho?
- Fui ali, tomar café. – respondi.
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