Costa, óptimo rapaz, de quem
não se conhecem defeitos, é tido como um quase excelente partido para casar com
a filha de quem as tem, não fosse o facto de não ser rico e por isso se mantém
solteiro.
Mas, “Também não é rapaz de
grandes méritos”, pensam as senhoras, mães das filhas da terra.
Estas mães com algum desdém
dizem que ele é trabalhador, bom amigo, brando mas mora numa casa alugada,
“vendo o copo meio vazio”, enquanto Azevedo, amigo de Costa, pelas mesmas
razões “vê o copo completamente cheio”. Não que quisesse para si mais do que a
amizade do Costa, já que Azevedo, desde muito cedo, se habituou “a levantar a
crista” para as meninas, fruto, não de um qualquer ensinamento, mas sim de uma
“coisa” interior que não consegue explicar…nem eu, conhecendo o Azevedo razoavelmente
bem!
Costa é um óptimo rapaz, não
por dizer “ámen” a toda a gente, mas por ser tolerante com os outros e ao mesmo
tempo firme nas suas convicções, mas sabendo reconhecer quando está errado, por
isso Azevedo, apesar de mais popular é capaz de admirar mais Costa, do que este
a Azevedo. Se tivesse irmãs, e bastava uma, Azevedo tinha a certeza que a
“impingia” a Costa, e só não “impinge” o único irmão que tem, por este já ser
casado!
Entre Costa, óptimo rapaz, e Azevedo,
de todas as diferenças existentes entre eles, desde as políticas, religiosas,
preferência clubística,… e até vocais, visto que Costa já cantou num coro e Azevedo
é o único ser vivo que continua a achar que canta benzinho, une-os aquilo que é
mais forte numa amizade, pelo menos entre homens…são básicos!
São básicos como era a
mecânica do Datsun 1200, que Azevedo teve quando adolescente, oferecido pelo
seu padrinho, com motores fiáveis, e de tal forma transparentes no seu
funcionamento, que até um cabeleireiro poderia dizer que percebia de carros!
Costa é assim, como um carro
que se gosta logo na primeira voltinha e sentimos que é de confiança, à
primeira conversa sente-se que ele pode ser nosso amigo, ficando a dúvida se
não teremos “extras” a mais para sermos capazes de ser amigos dele!
E é esta característica de “básico”,
não confundir com simplório, que Azevedo aprecia no seu amigo Costa, seus
pensamentos “roncam” como o motor do Datsun, naturais, sem ser abafados e sem
floreados. Por isso, e apesar das diferenças, aceitam-se e divertem-se com elas
e entusiasmam-se com o que os une, o gosto por jogar à bola, o ginásio e as
estórias que inventam estimulados um pelo outro!
Azevedo, ao longo da vida,
conheceu muita gente com demasiados extras, que a qualquer momento, como um
carro moderno mais vistoso do que o Datsun e cheio de electrónica, faz “shut
down”! Azevedo, ainda hoje se lembra do Datsun 1200, sem direcção assistida,
sem vidros eléctricos e o ponteiro de gasolina que não funcionava…mas que o
espevitava mais do que qualquer outro carro!
Costa, excelente rapaz, é
assim, simples e alegre, que apenas se desilude quando vai a um restaurante, pede
bacalhau e lhe respondem: - Não há!
Sem comentários:
Enviar um comentário