Zé, filho de José e de Maria José,
nascido há muitos anos, era uma criança como todas as outras, vivaça, traquinas
e de nome Zé como todos os seus amigos! Devido à necessidade de se
diferenciarem, tratavam-se pelo segundo nome ou apelido e Zé, filho de José e
de Maria José, era tratado por Brito.
O tempo, nas ruas de terra, era passado
a chutarem uma amálgama de trapos entrelaçados em forma de bola, que chutavam na
direcção de dois postes. Como não sabiam o nome do jogo a que gostavam de jogar,
costumavam dizer, “Vamos jogar aquilo?”. Além disto, gadulhas…por vezes
misturadas com “aquilo”.
Com as disputas de brincadeira, Brito
criou um espírito competitivo e desde criança nunca gostou de perder, muito
menos quando jogava “àquilo” mesmo sem saberem as regras e como se ganhava! Em
jovem adulto, viciado no jogo, não da bola, mas de cartas e dados, nunca
aceitou uma derrota, que significava perder dinheiro. Costumava frequentar um
salão de jogos chamado de “Templo”, em Jerusalém, e nos tempos vagos ia para um
monte de oliveiras descansar à sombra das mesmas. O espírito alegre, divertido
e de humor refinado que o fazia invejado pelos outros rapazes e apreciado pelas
mulheres, contrastava com o comportamento que assumia, como se estivesse possuído
pelo diabo, mal entrava no “Templo”. Obcecado e sem regras, não deixava a mesa
de jogo, nem quando seus amigos de infância, José Paulo, José Judas e José
Pedro, insistiam para que viessem embora.
Numa tarde tórrida de Verão, quando já
tinha perdido quase tudo e já estava a apostar as sandálias, o “coupier” da
mesa, o sacerdote José Ahmushef, expulsa-o à força, tendo Brito durante a saída
do “Templo” mandado umas mesas pelos ares.
Já numa esplanada de um café, Brito,
mais calmo, e seus amigos, tomavam uma cerveja de tâmara fresquinha sem saberem
que o dono do salão de jogos tinha mandado no seu encalço um grupo de capangas
para o castigar pelos prejuízos causados. Quando estes chegam à esplanada,
junto do grupo de amigos, o cabecilha pergunta:
- Conhecem o Brito?
- Sim! É aquele. – responde José Judas,
apontando para Brito, sentado no outro lado da mesa.
A expressão de Brito e restantes amigos,
foi de total espanto.
Os capangas atiram-se a Brito e este,
desesperado, grita:
- Sou nada, o José Judas mentiu. Ou sou
o Brito…de Jesus!
Perante este esclarecimento, no meio da
confusão que se começava a instalar, os “gorilas”, comentam entre si - Nós
queremos apanhar é o Brito…só! – e desaparecem!
Triste com a traição do amigo, Brito
sente a necessidade de estar só e muda-se de mesa. Maria Madalena, rapariga
avispada, que já andava de “olho” em Brito há algum tempo, aproxima-se e
senta-se na mesma mesa.
- Olá, Brito!
Brito, cabisbaixo, estica as
sobrancelhas para cima, franzindo a testa e avista a bela mulher. Recupera a
compostura e:
- Conhecemos-nos, bela mulher?
Maria Madalena, mais conhecida na noite,
como MM, perante o galanteio sorri e insinua-se:
- Gostava que fôssemos amigos!
- Nem pensar! – responde Brito,
prosseguindo – Tinha cinco mil e um amigos, acabei de perder um dos melhores,
por traição, e sobram-me cinco mil potenciais traidores! Chega de amizades, se
quiseres, segues-me!
E assim foi, Maria Madalena começou a
passar a palavra de que Brito atingiu o limite de amigos e que agora só
aceitava “seguidores” começando a liderar um grupo cada vez maior, sedento de
saber o que Brito fazia.
Contemporâneo de Brito e na mesma zona
andava um indivíduo de nome Jesus, a fazer tanto ou mais sucesso do que Brito,
sendo administrador de um “grupo fechado” de doze amigos, mas aberto a
seguidores, cada vez em maior número. Herodes, o poderoso governante de
Jerusalém, que se gabava de ser a pessoa com mais “seguidores”, movido pela
inveja, manda os seus soldados prender Jesus. Nessa busca para o apanhar, os
soldados vão ter à praça principal de Jerusalém, rodeada de esplanadas onde
vários grupos de amigos e conhecidos matam a sede com a bebida mais servida, a
cerveja de tâmara fresquinha.
Abel, comandante dos soldados, do meio
da praça grita para todos ouvirem:
- Alguém sabe onde está Jesus?
Os capangas que dias antes perseguiam
Brito, em uníssono respondem:
- O Jesus está ali! – apontando para uma
mesa próxima, onde estava Brito, relaxado, de perna cruzada a coçar os dedos do
pé.
Sem aviso prévio e sem direito a defesa,
Brito é agarrado e levado para as masmorras.
Dois dias depois é crucificado na
presença de seus amigos e seguidores encabeçados por Maria Madalena, que
insistentemente gritam “Gosto! Gosto!...”
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