domingo, 4 de maio de 2014

Liberdades de Abril (parte II).

A modista deu lugar ao estilista, o alfaiate ao costureiro, o barbeiro ao cabeleireiro, a decoradora ao arquitecto de interiores, o escudo ao euro, o contínuo ao auxiliar técnico de educação, o negro à minoria, o governante ao político, o império a uma “coisa” e depois a uma província da Europa, o Nandinho, em tempos o paneleiro, agora é gay,… Mas a mais importante conquista foi o “Politicamente correcto”, que nos permite sorrir durante uma sodomização colectiva!
Nada disto me arrelia! Pois eu tenho uma vidinha!

Sentia-me claustrofóbico, tudo era escuro e o espaço pequeno, sempre que esticava o braço tocava numa parede, sentia-me a ficar sem ar e mesmo antes de morrer, e aborrecia-me não saber aonde, ouço, Trimmmmmmmmm! Como um pugilista que está a ser espancado é salvo pelo gongo, eu fui salvo da morte certa pelo toque do despertador. É sexta-feira, se fosse fim-de-semana, em que o despertador não toca, certamente já não estaria aqui!
Abri os olhos e senti-me “cuspido” do sonho para este mundo, com a claridade do dia a querer forçar a entrada no quarto. Ainda não devidamente acordado digo:
- Morzinho, vou ficar mais um bocadinho deitado, enquanto preparas o pequeno-almoço!
- Não demores muito. – diz a Cristina.
Aquela frase, foi como lavar a cara com água fria. Pincho da cama e saio do quarto com destino à cozinha. Ficou ela deitada…mais um bocadinho!
Antes de nos despedirmos e de eu sair de casa, a minha senhora pergunta-me:
- A que horas chegas?
- À hora X. – respondo a medo, com o que dai pode vir.
- Ahhh, eu chego ás X horas e 5 minutos. Como chegas mais cedo apanha aquela roupa, estende a que está na máquina e…
-Simmmmmm! – e saí mal pude, antes que a lista de tarefas aumentasse.
A caminho do trabalho recebo uma mensagem, que só iria ver quando aparquei devidamente o carro no local de trabalho. Era um pedido/ordem para passar pelo supermercado.
Saio do carro e assumo a “farda” de profissional. Tinha que me despachar, pois tinha uma reunião das nove até às dez. Apesar de quinze anos de trabalho efectivo, continuo a não fazer uso dessa grande conquista, que é o não cumprimento dos horários. Antes das nove já estava sentado na sala de reuniões e a segunda pessoa apareceu cinco minutos depois das nove e quem a convocou apareceu ás 9h e 10m. Como seria de prever, acabou à 10h 30m. De volta ao meu gabinete, coloco trinta post-its à volta do monitor, com o dizer “compras”.
No final do dia laboral, vou directo ao supermercado, pertencente ao Grupo que faz promoções de cinquenta por cento de descontos, e faço as compras todas. De seguida, casa, apanhar roupa e estender outra. O que me animava era a futebolada, mais logo, com os amigos, essa hora mágica, em que nós, homens modernos, voltamos a ser canalha, brutos, por vezes broncos, outras vezes infantis, sem dúvida Neanderthais, mas sempre amigos!
Como o que é bom, acaba depressa, às 21h 30m já estava em casa.
- Morzinho! Morzinho, já cheguei!
Perante a falta de resposta e ainda imbuído do espírito heróico que uma futebolada nos proporciona, pensei, “Ela está desmaiada...mas como um príncipe, dou-lhe um beijo e ela desperta!”. Procurei a minha princesa pela casa e encontro um papel a dizer, “Fui caminhar, beijinhos!”.
Como a noite estava quente, desci da posição de príncipe à condição natural de lacaio, e ousei pensar, “Estou cansado, mas vou dar uma voltinha.”, e saí.
Pouco tempo depois toca o telemóvel, é a minha senhora:
- Olá, cheguei agora a casa. Aonde estás? – pergunta-me.
- Vim caminhar.
- Demoras? – pergunta-me, soltando um sorriso.
- Não. Já vou.
E apressei o passo, porque queria saber aonde está aquela camisa, que quero vestir amanhã.

- A minha camisa? – eu.
- Qual? – ela.
- Aquela assim e assado. – eu.
- Está la em baixo, na lavandaria. – ela.
- Eu quero vesti-la amanhã. – eu.
- Vai passá-la, a tábua e o ferro também lá estão. – ela…e continua – Vou-me deitar. Quando vieres para a cama, trazes-me um copo de água? – e dá-me um abraço.

Quero uma revolução, mas é para voltar ao antigamente, pois eu tenho uma vidinha!

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