A modista
deu lugar ao estilista, o alfaiate ao costureiro, o barbeiro ao cabeleireiro, a
decoradora ao arquitecto de interiores, o escudo ao euro, o contínuo ao
auxiliar técnico de educação, o negro à minoria, o governante ao político, o
império a uma “coisa” e depois a uma província da Europa, o Nandinho, em tempos
o paneleiro, agora é gay,… Mas a mais importante conquista foi o “Politicamente
correcto”, que nos permite sorrir durante uma sodomização colectiva!
Nada disto
me arrelia! Pois eu tenho uma vidinha!
Sentia-me
claustrofóbico, tudo era escuro e o espaço pequeno, sempre que esticava o braço
tocava numa parede, sentia-me a ficar sem ar e mesmo antes de morrer, e
aborrecia-me não saber aonde, ouço, Trimmmmmmmmm! Como um pugilista que está a
ser espancado é salvo pelo gongo, eu fui salvo da morte certa pelo toque do
despertador. É sexta-feira, se fosse fim-de-semana, em que o despertador não
toca, certamente já não estaria aqui!
Abri os
olhos e senti-me “cuspido” do sonho para este mundo, com a claridade do dia a
querer forçar a entrada no quarto. Ainda não devidamente acordado digo:
- Morzinho,
vou ficar mais um bocadinho deitado, enquanto preparas o pequeno-almoço!
- Não
demores muito. – diz a Cristina.
Aquela frase,
foi como lavar a cara com água fria. Pincho da cama e saio do quarto com
destino à cozinha. Ficou ela deitada…mais um bocadinho!
Antes de
nos despedirmos e de eu sair de casa, a minha senhora pergunta-me:
- A que
horas chegas?
- À hora X.
– respondo a medo, com o que dai pode vir.
- Ahhh, eu
chego ás X horas e 5 minutos. Como chegas mais cedo apanha aquela roupa,
estende a que está na máquina e…
-Simmmmmm!
– e saí mal pude, antes que a lista de tarefas aumentasse.
A caminho
do trabalho recebo uma mensagem, que só iria ver quando aparquei devidamente o
carro no local de trabalho. Era um pedido/ordem para passar pelo supermercado.
Saio do
carro e assumo a “farda” de profissional. Tinha que me despachar, pois tinha
uma reunião das nove até às dez. Apesar de quinze anos de trabalho efectivo,
continuo a não fazer uso dessa grande conquista, que é o não cumprimento dos
horários. Antes das nove já estava sentado na sala de reuniões e a segunda
pessoa apareceu cinco minutos depois das nove e quem a convocou apareceu ás 9h
e 10m. Como seria de prever, acabou à 10h 30m. De volta ao meu gabinete, coloco
trinta post-its à volta do monitor, com o dizer “compras”.
No final do
dia laboral, vou directo ao supermercado, pertencente ao Grupo que faz
promoções de cinquenta por cento de descontos, e faço as compras todas. De
seguida, casa, apanhar roupa e estender outra. O que me animava era a
futebolada, mais logo, com os amigos, essa hora mágica, em que nós, homens
modernos, voltamos a ser canalha, brutos, por vezes broncos, outras vezes
infantis, sem dúvida Neanderthais, mas sempre amigos!
Como o que
é bom, acaba depressa, às 21h 30m já estava em casa.
- Morzinho!
Morzinho, já cheguei!
Perante a
falta de resposta e ainda imbuído do espírito heróico que uma futebolada nos proporciona,
pensei, “Ela está desmaiada...mas como um príncipe, dou-lhe um beijo e ela
desperta!”. Procurei a minha princesa pela casa e encontro um papel a dizer,
“Fui caminhar, beijinhos!”.
Como a
noite estava quente, desci da posição de príncipe à condição natural de lacaio,
e ousei pensar, “Estou cansado, mas vou dar uma voltinha.”, e saí.
Pouco tempo
depois toca o telemóvel, é a minha senhora:
- Olá,
cheguei agora a casa. Aonde estás? – pergunta-me.
- Vim
caminhar.
- Demoras?
– pergunta-me, soltando um sorriso.
- Não. Já
vou.
E apressei
o passo, porque queria saber aonde está aquela camisa, que quero vestir amanhã.
- A minha
camisa? – eu.
- Qual? –
ela.
- Aquela
assim e assado. – eu.
- Está la
em baixo, na lavandaria. – ela.
- Eu quero
vesti-la amanhã. – eu.
- Vai
passá-la, a tábua e o ferro também lá estão. – ela…e continua – Vou-me deitar.
Quando vieres para a cama, trazes-me um copo de água? – e dá-me um abraço.
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