domingo, 25 de maio de 2014

Saudosismos à parte...

Num mundo em que cada vez mais as pessoas se entrincheiram em posições fixas, sem conseguir ver nada do lado de lá, fruto de uma formação cada vez mais académica, eu, pela mesma razão, movimento-me por áreas cinzentas.
Primeiro, porque não acredito em verdades absolutas, com a excepção de que o meu Sporting vai ser campeão para o próximo ano, nunca arriscando a “inverdade” de que vai ser este ano e segundo, porque penso que o outro lado tem sempre alguma razão, facto que não digo à minha mulher.
Como tal, quando tomo uma posição, geralmente não é por achar que é aí que se encontra a verdade toda, mas sim por ter as partes mais importantes da verdade, ou simplesmente por me sentir mais confortável.
Entre o conservador e o progressista, movimento-me entre os dois, em diferentes tons de cinzento.
Se por um lado sou contra as touradas e era capaz, para acabar com esse “espectáculo”, pelo menos na televisão, ouvir um concerto de Maria Guinot durante dezoito hora seguidas e preferir abraços do que espetar ferros noutros seres vivos,  por outro sou muito conservador e fico triste quando se muda aquilo que está bem.

Semana de final da “Liga dos Campeões”, jogo imperdivel. Quarta-feira, noite mítica das finais desta competição, estou sentadinho no sofá a torcer, sem que o jogo tenha ainda começado, para que vá a prolongamento e depois a penalties. O tempo passa, faço zapping por dois triliões de canais e o jogo não começa…ligo ao meu irmão:
- Em que canal é o jogo? – pergunto.
- Qual? – pergunta-me ele.
- O Atlético-Real. – digo-lhe eu
- Isso é no sábado! – diz-me, continuando – Amanhã é quinta, não te esqueças de ir trabalhar!
Depois de desligarmos, pensei um palavrão e pela boca saiu-me um indignado –“Poça!”
Antigamente tínhamos a “Lotação esgotada”, agora substituída por “Quem quer ser milionário”, apresentado pela Manela. Tínhamos um festival da canção e Eurofestival a uma só “mão”, nós com músicas tristes e melancólicas e as artistas do centro e norte da Europa a apresentarem-se loiras e mamudas (dava gosto)…nunca morenas e barbudas!
Há coisas que não deviam mudar, mas tudo bem, o mundo muda como muda de posição o ponteiro do relógio!
Ainda sentado no sofá a digerir o facto de que não iria ver nessa noite a final da “Liga dos campeões”, achei-me merecedor de um miminho…e fui jantar a um restaurante na minha rua.
Dez minutos após ter a ideia, já estava a ser atendido:
- Boa noite! O que vai desejar? – pergunta a pessoa que me atendeu.
Sem nenhuma dúvida e ligeiramente sôfrego, peço:
- Pataniscas, eu desejo pataniscas!
E o inesperado acontece, quando o empregado de mesa me pergunta:
- Quer pataniscas de bacalhau ou de vegetais?
Pela cabeça passaram-me tantos palavrões como os canais de televisão que tenho em casa:
- De bacalhau!! Eu quero pataniscas da única maneira que conheço…de bacalhau! – respondo.
- Então vai demorar um bocadinho, temos que as fazer. Se fossem de vegetais, já estão prontas…têm mais saída! – esclarece-me o empregado.
Sem dúvida, eu não me movimento tão depressa como os ponteiros do relógio nem ao mesmo ritmo que o mundo muda!

Apesar das zonas cinzentas em que me movimento, há coisas que me fazem desejar que o relógio parasse em 1988, em que patanisca…era patanisca!

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