domingo, 16 de novembro de 2014

Guião

Em virtude de uma ruptura muscular, há 4 semanas atrás, que me afastou das futeboladas com os amigos, comecei ontem a ser acompanhado por um psicólogo, que me disse, “Faça outras coisas.”…e fiz!
(a parte da lesão, contarei em pormenor noutro texto)
Tinha em “carteira” um guião escrito há já algum tempo e comecei a realizá-lo.
Depois de guionista, sou agora realizador e actor…e os meus amigos também, todos nós num total amadorismo, em que cada um faz de si próprio com interpretações soberbas. Como exemplo, foi excelente filmar o Miguel, a fazer de si próprio, a dormir, numa interpretação “oscariana”!
Data para o fim da filmagem não há. Se dependesse da minha vontade, seria rápido, mas esta nem sempre se concilia com a minha disponibilidade e da dos meus amigos actores. Como tal, será quando for e no final todos serão avisados.

Deixo-vos o início da estória, em “linguagem” de guião.

A vida de Gusto (igual à de quase todos)

INT. – CASA
Na sala, vê-se o aquário, a imagem vai rodando à volta dele e vê-se GUSTO, 40 anos e bem parecido, sentado, a contemplar os peixes. A imagem fica focada em Gusto, nostalgicamente triste e a cena seguinte é o regresso aos tempos de adolescente.

EXT. - ESPLANADA

Um adolescente sentado numa mesa de esplanada com uma chávena de café vazia à sua frente. ELA, bonita e morena, com grande carrapito lilás, chega, coloca-lhe a mão na cabeça, debruça-se sobre ele, aproxima a cara e dá-lhe um beijo.

MARIA
Olá Gusto! Tudo bem? Desculpa o atrazosito! Chegaste há pouco?

Ele olha para o relógio de pulso, volta a olhar para ela, que entretanto se sentou.

GUSTO
Olá Maria! Não, não, cheguei há pouco mais de uma hora e meia!

MARIA
(sorri)
Despachei-me só para estar contigo!

Aproxima-se o empregado do café

EMPREGADO
Vai desejar alguma coisa?

MARIA
Hummmmm, talvez um Frisumo de Ananás.

Após um compasso de espera.

EMPREGADO
Então? Talvez sim ou talvez não?

MARIA
(decidida)
Tenho a certeza que é um talvez sim!

O empregado afasta-se e Gusto e Maria, sentados, viram-se um para o outro. Ela com os braços pousados em cima da mesa, dona e senhora da situação, ele com os braços para baixo e as mãos debaixo da mesa, para esconder o nervossismo.

Depois de um compasso de espera.

GUSTO
Estás bonita!

MARIA
Obrigada!
(pausa breve)
Não notas nada de diferente?

GUSTO
Aonde?

MARIA
Em mim, meu lindo!

E encolhe os ombros, um pouco envergonhada pelo elogio feito ao Gusto.

Entretanto o empregado pousa a bebida em cima da mesa.

Após ouvir esta pergunta, feita ao ínício da tarde, ele não via nada de diferente nela, apesar do carrapito lilás, coisa que não tinha no dia anterior, quando se encontraram no mesmo sítio.

Maria fica a olhar para o Gusto, enquanto ele a fita de diversos ângulos sem ver nada de diferente.

GUSTO
Vou só à casa de banho. Quando tenho vontade de fazer chichi, fico muito distraído!

Ela sorri.

Ele levanta-se e vai directo ao empregado que também os serviu no dia anterior.

GUSTO
Ó senhor, desculpe! Eu ontem estive aqui com aquela minha amiga…

EMPREGADO
Sim, eu lembro-me!

GUSTO
Nota alguma coisa diferente nela?

O empregado desvia o olhar em direcção da mesa e após breve contemplação:

EMPREGADO
Não! Não vejo nada de diferente na menina!

Gusto regressa à mesa e senta-se.

MARIA
E então?

Gusto, com uma expressão desconfortável fica a olhar para a Maria. Olha para o relógio. A imagem fixa o relógio que marca 15h07m.

VOICE OVER
Há algo que o homem durante o seu crescimento não desenvolve, algo para o qual nem a sua mãe, no seu pleno amor, o preparou.

MARIA
E então?

O tempo passava e a tensão aumentava. Gusto olhava para a Maria sem vislumbrar nada de diferente na sua quase namorada. Olha para o relógio. A imagem fixa o relógio que marca 19h30m. A imagem volta ao casal na mesa. Ele arrisca responder com sinceridade, esboçando um sorriso tímido.

GUSTO
Não! Não vejo nada de diferente!

Perante a resposta, Maria, mexe no carrapito lilás meia dúzia de vezes, que fez antes do encontro, e em vez de acabar o namoro, diz baixinho com os dentes cerrados, fruto de uma raiva imensa.

MARIA
Ai não notas nada de diferente?! Havemos de casar e tu vais sofrer.

Câmara fixa Gusto que diz baixinho, para si mesmo:

GUSTO
Ela vai acabar o namoro!


LEGENDA – QUINZE ANOS MAIS TARDE

INT. – QUARTO

Gusto e Maria deitados na cama a dormir. Não falta muito para o despertador tocar.

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