domingo, 9 de novembro de 2014

O ritmo do tempo e o preço da idade

Quando olho para o meu álbum de fotografias, se começar a abri-lo pelo ínicio, pois tenho o hábito de abrir o jornal “O Jogo” pelo fim, encontro duas fotografias com três meses, seguidas de outras duas já com seis.
Convém recordar que tenho quarenta anos e que no ano de 1974 ter nos primeiros seis meses de vida quatro fotografias era uma extravagância e havia quem dissesse que me estavam a estragar com mimos!
Não me recordo de com três meses desejar ter seis, mas lembro-me perfeitamente de em criança os ponteiros pararem e o tempo não passar, e de um dia dos meus seis anos ter a duração de três dias dos meus quarenta.
Na primária, o tempo chegou a arrastar-se para trás, fruto de uma paixão correspondida, e sentia que o dia de casar com a Carlinha (sim, ela prometeu-me casamento a meio da 1ª classe) estava à distância do “além”, numa altura em que tudo o que era para amanhã era sempre distante demais!
Impaciente, aos treze anos queria ter dezasseis para parecer crescido (!) e aos dezasseis queria ter dezoito para ter a carta. Nunca estava bem com a idade que tinha, mas lembro-me de pensar “ No ano dois mil vou ter vinte e seis anos. Que velho!”
Não me senti velho quando lá cheguei, coabitando o mesmo espaço com os adolescentes, mas diferente deles no ritmo e também nas lamurias, uns praguejando porque o tempo não passava e eu a dar por mim a dizer “O tempo corre!”
E correu até aos trinta!
E aos trinta lembrei-me dos meus dezassete. E dos meus dezassete lembrei-me de um certo sábado à tarde, em que encontrei um amigo destroçado, a quem delicadamente perguntei:
- Estás todo lixado, Fernando! O que se passa?
- Faço trinta anos. - respondeu-me.
Com carinho consolo-o:
- Deixa lá, eu tenho dezassete!
E ele chorou e virou costas e foi-se embora e nunca mais me falou. Senti que ele trocava a idade que tinha pela minha.
Sugestionado por esse acontecimento treze anos antes, passei o dia 26 de Dezembro de 2003 ao lado de um desfibrilhador e acompanhado por um amigo psicólogo. Quando batem na torre da igreja as vinte e duas, hora em que nasci e marcou a minha entrada nos “trinta”, nada aconteceu! Um momento antes tinha vinte e nove no momento seguinte trinta. Nem uma depressão, nem nenhuma quebra física. O coração batia normalmente e nem uma mísera cãibra senti a denunciar o peso da idade! Que seca! Nada de extraordinário para relatar a não ser o facto de ter passado a noite a ouvir os desabafos do meu amigo psicólogo a sofrer de mal de amor e, ao contrário do Fernando, não trocar o actual número por outro abaixo.
Espirrei e sem dar conta fiz quarenta. Agora, a dois meses de fazer quarenta e um, o meu irmão fez trinta e oito e chamei-o de “velho”… ele sorriu. O sorriso era acompanhado de um pensamento, ao qual respondi “Rejuvenesce-se a partir dos quarenta! Vais ter de esperar mais dois anos.”

Nunca mais soube do Fernando e o meu amigo psicólogo, sempre que pode, passa por minha casa para desabafar e, por enquanto, continuo a não trocar o meu número actual pelo anterior!

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