domingo, 28 de dezembro de 2014

Ternura dos quarenta…e um

Era de manhã e lá fora fazia frio, mas não chovia. Iria confirmar estas condições meteorológicas, depois de me levantar, após ter sido acordado pelo toque do telemóvel.
Antes do toque, estava no estado idílico, que eu baptizei de “Estado 2+1”,que consiste no binómio quentinho/fofinho (2…), enfiado na cama, com o bónus de um sonho espectacular(…+1).
O binómio era-me garantido por lençois, fofinhos, e um edredon, de igual adjectivação, e a espectacularidade do sonho era garantida pelo equipamento que eu envergava, verde e branco, do Sporting. Recebo a bola no meio campo, o estádio completamente cheio, gritava pelo meu nome e pelo nome da mãe do árbitro, enquanto corria com a bola nos pés, chuto e é golo, levanto os braços para celebrar a conquista da taça intercontinental pelo Sporting, e…
Trimmmmm, trimmmmm, trimmmmm,
O toque irritante do telemóvel despertou-me do sonho espectacular, quebrando o estado idílico “2+1”, ficando-me pelo binómio Quentinho/fofinho. Estico o braço de debaixo dos lençóis e puxo-o para dentro do “casulo”.
- Estou?! – atendo com a voz sonolenta e melada.
- Parabéns filhinho! Como te sentes no teu primeiro dia a iniciar a “caminhada” para os cinquenta? Charmoso e bonitão?! – pergunta a minha mãe.
Fui apanhado desprevenido pela pergunta, não pelo lado do “charmoso” e muito menos pelo de “bonitão”, mas pelo lado do “a iniciar a caminhada para os cinquenta”. No dia anterior, 26 de Dezembro, tinha feito quarenta e um anos.
Sem saber como me sentia, respondi:
- Sinto-me espectacular!!!
Desligamos. Afinal o aniversário não foi um sonho! Se calhar o jogo também não!
Telefonei ao meu amigo.
- Miguel, ontem marquei um golo pelo Sporting e fui Campeão Intercontinental?
- Ontem fizeste 41 anos. Querias jogar futebol com essa idade? Ganha juízo!
Desliguei e ligo para a minha mãe, tudo debaixo dos lençois para manter, pelo menos, o binómio, já que a realidade custava a compreender.
- Mamã, mas eu não me sinto com idade, ou melhor, sinto-me como se tivesse parado nos 32!
- Pois é filhinho, o tempo corre! Passaram quarenta e um anos desde 26 de Dezembro de 1973 e quarenta um anos e dois dias desde que fui para o hospital para te ter.
Curioso, a única recordação que tenho de mim, antes dos quatro anos, é de estar na barriga da minha mãe e ouvir do lado de fora, “Está frio, vamos despachar este nascimento”. Demorei dois dias para nascer, já pressentia que “frio” não seria coisa agradável.
Saí da cama com o mesmo custo com que saí do ventre da minha mãe!
Enquanto me arranjava, não liguei o rádio, não fosse acontecer como no ano passado, que nas ultimas escovadelas nos dentes, o radialista que estava a passar música “naquela estação” faz uma passagem que nem lembra ao diabo, de Beyoncé passa para Paco Bandeira, o gajo que canta “A ternura dos quarenta”. Decidi antes visionar, pela octagésima terceira vez, “O diário de Bridget Jones”. Tal como ela decidi tomar resoluções, já que o meu aniversário calha sempre no mesmo dia (o 26/12) e sinto-me constantemente a envelhecer, em que apenas durante cinco dias posso dizer que faço anos para o ano!
Para vincar a minha personalidade comecei por uma “não resolução”, vou continuar a ser sportinguista durante 2015; apontei como segunda medida uma “resolução absoluta”, vou cortar um sobretudo em tons de castanho, muito bonito, para ficar mais curto e mais jovem…mais condizente com a minha “estampa”; outra resolução fatal para o primeiro semestre, é perder 715 gramas na zona abdominal, quando é imensamente mais fácil ganhar;…e a minha “derradeira resolução”, nunca antes tomada por manifesto medo, será, começar a mandar um bocadinho cá em casa!

Amigos, se começarem a ver-me pisado na rua, não perguntem. Irei sempre responder que caí a andar de bicicleta!

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