Era de manhã e lá fora fazia
frio, mas não chovia. Iria confirmar estas condições meteorológicas, depois de
me levantar, após ter sido acordado pelo toque do telemóvel.
Antes do toque, estava no
estado idílico, que eu baptizei de “Estado 2+1”,que consiste no binómio
quentinho/fofinho (2…), enfiado na cama, com o bónus de um sonho
espectacular(…+1).
O binómio era-me garantido por
lençois, fofinhos, e um edredon, de igual adjectivação, e a espectacularidade
do sonho era garantida pelo equipamento que eu envergava, verde e branco, do
Sporting. Recebo a bola no meio campo, o estádio completamente cheio, gritava
pelo meu nome e pelo nome da mãe do árbitro, enquanto corria com a bola nos
pés, chuto e é golo, levanto os braços para celebrar a conquista da taça
intercontinental pelo Sporting, e…
Trimmmmm, trimmmmm, trimmmmm,
O toque irritante do telemóvel despertou-me do sonho espectacular, quebrando o estado
idílico “2+1”, ficando-me pelo binómio Quentinho/fofinho. Estico o braço de
debaixo dos lençóis e puxo-o para dentro do “casulo”.
- Estou?! – atendo com a voz
sonolenta e melada.
- Parabéns filhinho! Como te
sentes no teu primeiro dia a iniciar a “caminhada” para os cinquenta? Charmoso
e bonitão?! – pergunta a minha mãe.
Fui apanhado desprevenido pela
pergunta, não pelo lado do “charmoso” e muito menos pelo de “bonitão”, mas pelo
lado do “a iniciar a caminhada para os cinquenta”. No dia anterior, 26 de
Dezembro, tinha feito quarenta e um anos.
Sem saber como me sentia,
respondi:
- Sinto-me espectacular!!!
Desligamos. Afinal o
aniversário não foi um sonho! Se calhar o jogo também não!
Telefonei ao meu amigo.
- Miguel, ontem marquei um
golo pelo Sporting e fui Campeão Intercontinental?
- Ontem fizeste 41 anos.
Querias jogar futebol com essa idade? Ganha juízo!
Desliguei e ligo para a minha
mãe, tudo debaixo dos lençois para manter, pelo menos, o binómio, já que a realidade custava a compreender.
- Mamã, mas eu não me sinto
com idade, ou melhor, sinto-me como se tivesse parado nos 32!
- Pois é filhinho, o tempo
corre! Passaram quarenta e um anos desde 26 de Dezembro de 1973 e quarenta um anos
e dois dias desde que fui para o hospital para te ter.
Curioso, a única recordação que
tenho de mim, antes dos quatro anos, é de estar na barriga da minha mãe e ouvir
do lado de fora, “Está frio, vamos despachar este nascimento”. Demorei dois dias
para nascer, já pressentia que “frio” não seria coisa agradável.
Saí da cama com o mesmo custo
com que saí do ventre da minha mãe!
Enquanto me arranjava, não
liguei o rádio, não fosse acontecer como no ano passado, que nas ultimas
escovadelas nos dentes, o radialista que estava a passar música “naquela
estação” faz uma passagem que nem lembra ao diabo, de Beyoncé passa para Paco
Bandeira, o gajo que canta “A ternura dos quarenta”. Decidi antes visionar,
pela octagésima terceira vez, “O diário de Bridget Jones”. Tal como ela decidi
tomar resoluções, já que o meu aniversário calha sempre no mesmo dia (o 26/12)
e sinto-me constantemente a envelhecer, em que apenas durante cinco dias posso
dizer que faço anos para o ano!
Para vincar a minha
personalidade comecei por uma “não resolução”, vou continuar a ser sportinguista
durante 2015; apontei como segunda medida uma “resolução absoluta”, vou cortar
um sobretudo em tons de castanho, muito bonito, para ficar mais curto e mais
jovem…mais condizente com a minha “estampa”; outra resolução fatal para o
primeiro semestre, é perder 715 gramas na zona abdominal, quando é imensamente
mais fácil ganhar;…e a minha “derradeira resolução”, nunca antes tomada por
manifesto medo, será, começar a mandar um bocadinho cá em casa!
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