domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Carolina...!


Na sexta-feira, ao final da tarde, a Carolina, a minha melhor amiga morreu.
Não era uma amiga que via de vez em quando. A Carolina vivia comigo e todos os dias davamos o nosso passeio e dispensavamos muito bem a companhia da Cristina, a minha mulher!
Eu e ela gostavamos de passear ao nosso ritmo, por norma ao ritmo dela e muitas vezes paravamos, encostados um no outro a contemplar quem passava. Apesar desta minha amiga ser linda e elegante, a Cristina nunca sentiu nenhum cíume da Carolina, aliás, gostavam muito uma da outra!
A Carolina era tão linda, que por norma as pessoas paravam e perguntavam:
- É tão bonita, de que raça é?
- Não tem raça! – respondia eu.
Achava piada a esta pergunta, como se um cão, para ser bonito, tivesse que ter pedigree. Para mim era a minha melhor amiga e isso chegava para a ver bonita…a mais bonita!
No segundo texto que escrevi neste blogue, fiz referência à Carolina. Como já se aperceberam, hoje não há um novo texto, apesar de anúnciar novidades no blogue. Hoje vou repôr o meu segundo texto, em homenagem à Carolina, de quem tenho saudades!

“Sábado, dia porreiro!

Neste texto, vou utilizar a palavra “cócó” em detrimento da palavra "merda". Significam o mesmo, mas "merda" pode ferir as sensibilidades “cócó”!
Numa vida feita maioritariamente de obrigações e alguns fretes, elejo o sábado como o dia “porreiro”. É neste dia que consigo pôr de lado as atividades obrigatórias e os fretes e convivo com quem quero, e comigo mesmo, e tenho mais tempo para fazer o que realmente gosto…à exceção de alguns afazeres domésticos, que garantem a estabilidade da coligação marido/mulher!
Enquanto há pessoas que para se sentirem bem têm que fazer coisas extraordinárias e várias vezes (portanto nunca ou poucas vezes estão bem), eu tenho a sorte, nestes tempos de crise, de gostar muito de desempenhar atividades gratuitas ou baratuchas, como escrever, lêr (e peço alguns livros emprestados), jogar à bola com o mesmo grupo de amigos há anos, andar de bicicleta,… e de sonhar, conseguir fechar os olhos e viajar no tempo e no espaço! Mas depois abri-los e voltar à realidade.
Este sábado acordou solarengo e eu quase acordei com ele, cedo. Depois de tomar o pequeno almoço, que me garante a sustentação física, e depois de estender alguma roupa, que garante a harmonia no lar e uma refeição quente, é altura do meu passeio com a Carolina, a minha cadela, adoptada numa associação de proteção de animais.
Neste passeio, como de costume, tudo corria bem e como o costume a Carolina fazia cócó e chichi (é verdade, em vez de mijar vou dizer “chichi”)  e como é costume, passeava-me com grande classe!
Numa das pausas da Carolina, para cheirar mais não sei o quê, olho para o lado a ver quem passa. Quando os meus olhos retornam à cadela, ela já não estava a cheirar nada, mas sim a lamber o “cócó” de outro cão! Foi o horror!!!
Por mais liberal que possa ser quanto aos comportamentos caninos e humanos, não me choca ver um cão a sodomizar outro, ver uma matilha numa ramboiada sexual ou até uma cadela com cio a oferecer-se a qualquer cão…mas a minha Carolina a lamber “cócó”, NÃO!
Em choque, o passeio foi encurtado e tomei as rédeas do mesmo e fomos directos para casa!
Em vez de me deitar, sentei-me, porque já estava penteado e custava-me a aceitar a lambidela da Carolina no “cócó”, como deve custar a um pai ouvir da filha de treze anos que está grávida de um puto pobre, ou como me custa desfazer a barba (ainda falam as mulheres de depilação!)! O sábado, o dia porreiro, estava estragado!
Decidi sair de casa e caminhar…fui ao café!
Desfolhava o jornal e parei na notícia que falava no caso do virus de Dengue na Madeira e exclamei:
- Poça, se isto chega aqui?!
A Dona Mariazinha, que estava sentada na mesa ao lado, ripostou:
- Oh Zé, que se lixe o Dengue, pior é se chega ao continente o virus Alberto João!
Esta capacidade muito portuguesa de relativizar as coisas, de que pode sempre acontecer algo pior, de que há sempre alguém a passar por dramas maiores, da-nos um aconchego, um quentinho fofinho na barriga!
A Dona Mariazinha, sem saber, recuperou-me o dia com a sua observação. Fui para casa a pensar, “A Carolina lambeu cócó, mas pior seria ela engravidar estando esterilizada!”.
O sábado voltou a ser um dia porreiro!”

4 comentários:

  1. Sinto muito pela tua Carolina Zé, quem tem a amizade de um ser assim é k sabe a dor k sentimos, beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Olá Laura, obrigado pela compreensão!
    Um beijinho para ti, meu e da Cristina!

    ResponderEliminar
  3. Apesar de tudo, a Carolina teve muita sorte em ter encontrado uns donos que lhe deram tanto amor e dedicação. Se ela pudesse ter dito qualquer coisa, teria dito "Obrigada." e depois diria: "E se fôssemos chatear as galinhas?" Beijinho.

    ResponderEliminar