Na sexta-feira, ao final da tarde, a Carolina, a minha
melhor amiga morreu.
Não era uma amiga que via de vez em quando. A Carolina vivia
comigo e todos os dias davamos o nosso passeio e dispensavamos muito bem a companhia
da Cristina, a minha mulher!
Eu e ela gostavamos de passear ao nosso ritmo, por norma
ao ritmo dela e muitas vezes paravamos, encostados um no outro a contemplar
quem passava. Apesar desta minha amiga ser linda e elegante, a Cristina nunca
sentiu nenhum cíume da Carolina, aliás, gostavam muito uma da outra!
A Carolina era tão linda, que por norma as pessoas
paravam e perguntavam:
- É tão bonita, de que raça é?
- Não tem raça! – respondia eu.
Achava piada a esta pergunta, como se um cão, para ser bonito,
tivesse que ter pedigree. Para mim era a minha melhor amiga e isso chegava para
a ver bonita…a mais bonita!
No segundo texto que escrevi neste blogue, fiz referência
à Carolina. Como já se aperceberam, hoje não há um novo texto, apesar de
anúnciar novidades no blogue. Hoje vou repôr o meu segundo texto, em homenagem
à Carolina, de quem tenho saudades!
“Sábado, dia porreiro!
Neste texto, vou utilizar a palavra “cócó” em detrimento da
palavra "merda". Significam o mesmo, mas "merda" pode ferir
as sensibilidades “cócó”!
Numa vida feita maioritariamente de obrigações e alguns
fretes, elejo o sábado como o dia “porreiro”. É neste dia que consigo pôr de
lado as atividades obrigatórias e os fretes e convivo com quem quero, e comigo
mesmo, e tenho mais tempo para fazer o que realmente gosto…à exceção de alguns
afazeres domésticos, que garantem a estabilidade da coligação marido/mulher!
Enquanto há pessoas que para se sentirem bem têm que fazer
coisas extraordinárias e várias vezes (portanto nunca ou poucas vezes estão
bem), eu tenho a sorte, nestes tempos de crise, de gostar muito de desempenhar
atividades gratuitas ou baratuchas, como escrever, lêr (e peço alguns livros
emprestados), jogar à bola com o mesmo grupo de amigos há anos, andar de
bicicleta,… e de sonhar, conseguir fechar os olhos e viajar no tempo e no
espaço! Mas depois abri-los e voltar à realidade.
Este sábado acordou solarengo e eu quase acordei com ele,
cedo. Depois de tomar o pequeno almoço, que me garante a sustentação física, e
depois de estender alguma roupa, que garante a harmonia no lar e uma refeição
quente, é altura do meu passeio com a Carolina, a minha cadela, adoptada numa
associação de proteção de animais.
Neste passeio, como de costume, tudo corria bem e como o
costume a Carolina fazia cócó e chichi (é verdade, em vez de mijar vou dizer
“chichi”) e como é costume, passeava-me com grande classe!
Numa das pausas da Carolina, para cheirar mais não sei o
quê, olho para o lado a ver quem passa. Quando os meus olhos retornam à cadela,
ela já não estava a cheirar nada, mas sim a lamber o “cócó” de outro cão! Foi o
horror!!!
Por mais liberal que possa ser quanto aos comportamentos
caninos e humanos, não me choca ver um cão a sodomizar outro, ver uma matilha
numa ramboiada sexual ou até uma cadela com cio a oferecer-se a qualquer
cão…mas a minha Carolina a lamber “cócó”, NÃO!
Em choque, o passeio foi encurtado e tomei as rédeas do
mesmo e fomos directos para casa!
Em vez de me deitar, sentei-me, porque já estava penteado
e custava-me a aceitar a lambidela da Carolina no “cócó”, como deve custar a um
pai ouvir da filha de treze anos que está grávida de um puto pobre, ou como me
custa desfazer a barba (ainda falam as mulheres de depilação!)! O sábado, o dia
porreiro, estava estragado!
Decidi sair de casa e caminhar…fui ao café!
Desfolhava o jornal e parei na notícia que falava no caso
do virus de Dengue na Madeira e exclamei:
- Poça, se isto chega aqui?!
A Dona Mariazinha, que estava sentada na mesa ao lado,
ripostou:
- Oh Zé, que se lixe o Dengue, pior é se chega ao
continente o virus Alberto João!
Esta capacidade muito portuguesa de relativizar as
coisas, de que pode sempre acontecer algo pior, de que há sempre alguém a
passar por dramas maiores, da-nos um aconchego, um quentinho fofinho na
barriga!
Sinto muito pela tua Carolina Zé, quem tem a amizade de um ser assim é k sabe a dor k sentimos, beijinhos
ResponderEliminarOlá Laura, obrigado pela compreensão!
ResponderEliminarUm beijinho para ti, meu e da Cristina!
Apesar de tudo, a Carolina teve muita sorte em ter encontrado uns donos que lhe deram tanto amor e dedicação. Se ela pudesse ter dito qualquer coisa, teria dito "Obrigada." e depois diria: "E se fôssemos chatear as galinhas?" Beijinho.
ResponderEliminarTenho muitas saudades! Um beijinho!
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