sábado, 16 de março de 2013

Dependências (parte I).


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…e os vícios! Correcto?
Dos tempos em que era bébé, diz a minha mãe que eu só pensava em mamar e dormir…isto, quando não me dava para acordar todo o agregado familiar, sempre depois da uma da manhã e nunca depois das seis! Apesar de não ter memória de mim, nessa idade, posso afirmar com certeza absoluta, que foram os tempos mais felizes da minha vida! Não me interessava o dinheiro, as miúdas e muito menos o futebol…Uma mama plena de leite e um regaço quente chegavam-me, e toda a “borrada” que eu fazia era encarada com um sorriso!
Começei a crescer, abandonei a teta e as longas horas de sono. Aos três anos só queria brincadeira e massacrava os adultos com a pergunta: - Porquê?!
Mais tarde, entre os seis e os dez anos fui possuído pela ambição. A chupeta já não me chegava. Sempre que me perguntavam o que queria, invariavelmente respondia: uma pista de carros, uma bola e…Mas queria mais e mais, e sem ter noção disso, estava dependente dos bens materiais e só eles me traziam satisfação, apesar de momentânea. Queria o He-man, mas dois dias depois já queria a nave da Galáctica…!
Como um drogado, os meus pedidos de brinquedos delapidavam as economias da família e deixavam a minha mãe saudosa dos tempos em que era viciado em leite, por ela própria produzido, e em colo ou cama!
A partir da pré-adolescência, comecei a frequentar um sítio maldito, o salão de jogos “2002”…isto em 1985. Lembro-me de na altura, fazer as contas e pensar, “Em 2002 terei 29 anos. Que velho!!”
Neste antro de vício fiquei “agarrado” aos matraquilhos, que me consumiam o tempo. A partir de 1989, os matraquilhos já não me satisfaziam e desencaminhado por um amigo, um daqueles rotulados como “má companhia”, experimentei o bilhar! Pagaram-me a primeira partida…e fiquei logo “agarrado”.
Alternava as partidas de bilhar com partidas de cartas, onde ganhava dinheiro para o desbaratar de seguida.
Amigos meus, numa espiral de decadência, levaram o vício mais longe, tendo ficado vidrados nas máquinas de jogos, principalmente no Pac-Man. O Tozé nunca mais recuperou, está um farrapo humano! Estaciona carros, no Parque Senhora das Dores, para gastar as moedas amealhadas no “Super Mário”.
Algures, nesta fase de jogatina, descobri que a “pilinha” não servia só para fazer “chichi” e fui substituindo o vício do jogo pelo vício da troca de afectos com o sexo oposto. Esta “droga” nova fazia-me levantar os “pés do chão” e estava decidido a deixar as outras (drogas). Só ocasionalmente partilhava uma partida de matraquilhos…mas apenas com um bom amigo!
Esta nova droga, apresentava-se sob várias formas: ora cheiinhas, ora esguias, ou então mais velhas, ou verdinhas…independentemente disso, ou gostava delas… morenas!
Conhecidos meus, desta altura, iam adquirir esta droga a dealers, mas ela vinha misturada e fazia mal à saúde, à carteira e à fama Estes dependentes destas drogas, provenientes, na altura, principalmente das “plantações” do Brasil e da Colômbia, eram conhecidos como os “putanheiros”!
Eu preferia estas drogas em estado natural, que me faziam delirar e ressacar em linhas escritas num qualquer papel! Amigos diziam-me: - Tem cuidado! – ao que respondia como qualquer drogado que pensa ter o vício controlado:  - Eu conheço-as muito bem!
Sem me aperceber acabei por bater no fundo. Na lista telefónica já anotava as Anas na folha para a letra “Z” e as Carlas na folha para a letra “X” e facilmente trocava os nomes. Esta droga, chamada de mulher, estava-me a fazer mal à cabeça!
Aos 23 anos, quando me sentia no meio de um túnel, em plena noite, em que não havia luz na saída, fez-se dia, quando conheci a Cristina!
Outros amigos e conhecidos, descobriram a metadona, para substituírem as drogas duras, enquanto eu, substituí a minha lista telefónica por outra, de apenas uma folha para a letra “C”!

Mas havia um ou outro triste, que nunca se tinha viciado em nada, nem sequer numa qualquer estúpida colecção de “qualquer coisa”!
Mas algo iria mudar e apanhar todos no mesmo vício, uma nova droga sintética... O Facebook!

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