Já ouvi um pouco de tudo, desde a Ciência e a Religião serem
antagónicas, passando pelos cientistas crentes em Deus até à Religião e Ciência
se complementarem. E neste último caso, é facto que muitos historiadores e
arqueólogos se basearam na Bíblia para descobrirem ou identificarem lugares
julgados perdidos.
Apesar de me achar um ser evoluído e utilizador da razão,o
que me dá um toque moderno e sofisticado permitindo-me deambular entre teorias,
e nestas alturas peço a Deus para ninguém me interromper porque não as sei
explicar, quero crer, porque me interessa, que a Bíblia tem razão ao
identificar vida apenas no nosso planeta, apesar de não entender porque Deus
fez o Homem à sua imagem, quando pelo que se vê, podia tê-lo feito um pouco
melhor...
Esta minha crença de vida apenas no nosso planeta tem a ver
com vergonha e status, da mesma forma, que certamente um habitante de Mogege
tem vergonha em dizer onde mora. Não é muito bonito dizer, numa intervenção
inter-planetária, “Eu sou um Terráqueo”. Já estou a imaginar o sorrisinho dos
Venusianos e Uranianos, habitantes de planetas com estilo, equivalente ou melhor
do que ser um Terráqueo a morar no Parque das nações!
Um dia que me apareça um ser extraterrestre e me pedir o
cartão do cidadão, ele vai verificar que sou naturalmente Terráqueo e Terráqueo
de residência…que parolice!
Se ao menos houvesse maternidades na Lua e a minha mãe lá
tivesse o parto, poderia dizer que sou naturalmente Lunático e Terráqueo por
obrigação. Como vêem, tenho vergonha de ser Terráqueo e se fosse rico e pudesse
escolher, vivia em Neptuno e escondiria a minha origem saloia, diria apenas,
“Sou Neptuniano e Sportinguista!”.
Estava uma destas noites em casa (casado e com quarenta, é
onde estamos quase sempre) a olhar cá para fora e a ver a chuva a cair, quando
vejo uma luz, a piscar, a atravessar o céu....que susto…afinal era um avião! E
com o susto “tombei” num sono que me trouxe um sonho!
“Saturday night, vinte aninhos, estava eu na Gravity Disco
Sound, de Marte, local onde não me sentia muito mal, porque os marcianos são
tão parolos quanto eu, e é com eles que, nós terráquios, disputamos o derby
mais quentinho desse desporto chamado futebol, a cair em desuso no Universo!
Enquanto dava uns “goles” numa bebida espirituosa, cuja
fórmula química é segredo do barman que já trabalhou no Via Láctea Swing Stereo Sound, de Plutão, e batia o pé ao som
de uma nova banda de música de discoteca, os “BeeXees” de Saturno, uma miúda,
pelo menos parecia-me, vem ter comigo e diz-me:
- Olá!
Pelo aspecto não é terráquia e pelo sotaque não me pareceu
marciana.
- Olá! – respondo com outro cumprimento.
- És bem feiinho! – diz-me, insinuando-se.
Apesar de, certamente, não o ser como terráqueo, naquele
espaço nocturno, de onde vinham seres de todo o Sistema Solar, de aspectos muito
diferentes, como aquele ser com quem conversava, não sei de que planeta, tínhamos
algo em comum, tínhamos dois olhos na cara!
- Há quem ache o contrário. – respondo.
- Já agora eu sou a XW, vim com a minha prima OW, e somos de
Júpiter. E Tu?
- Eu sou o Zéquinha! – respondo.
- Que nome! – diz a XW, prosseguindo – E aonde moras?
- Na Trofa.
- Aonde fica? – insiste a XW.
- Em Portugal.
- Sim, mas onde?
- Na Europa.
- Não estás a perceber Zéquinha! De que planeta vens?
A XW fez a pergunta à qual tento escapar e que feita de
forma tão directa obriga-me a mentir.
- Sou Neptuniano, moro em Neptuno! – menti.
- Uau, que chique, Neptuno! Sabeis cuidar do que è vosso e
tendes o planeta sempre limpinho! – diz XW, entusiasmada.
A noite prosseguiu animada, baseada numa mentira!
À hora de ir embora despeço-me e vou para o terminal do
Desmetropolitano Inter-galáctico. Sem saber, fui seguido pela XW que queria ver
partir por quem se apaixonou. Estranhou ao não me ver entrar no
Desmetropolitano para Neptuno e desiludiu-se quando entrei no Desmetropolitano
com destino para a Terra via Lua!
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