Anos de matrimónio, e relatos de amigos em idêntico
estado civil, fizeram-me compreender que a mulher tem um gosto especial para
atribuir ao homem tarefas que não nos agradam! Tendo noção desta característica
feminina, o homem pode ser mais feliz na coligação marido/mulher.
- Vai ás compras.
Sempre que esta frase me é dirigida pela Cristina, geralmente
ao sábado, faço uma expressão de desagrado, mas todo o meu interior é luz de
alegria e satisfação. Adoro ir ás compras, como adorava ir à discoteca quando era
adolescente…mas se mostrasse alegria nesta tarefa, certamente deixava de a
executar.
- Outra vez! Já estou farto!
(na verdade estava mortinho para ir ao hipermercado)
- Pega.
(E passa-me a lista para a mão)
- Fogo, é para vir carregado!
Perante tanta dificuldade demonstrada, a Cristina sorri e diz-me:
- E para a próxima vais tu outra vez ás compras.
Neste momento estou nos píncaros do cinismo, sorrindo por
dentro e quase chorando por fora.
Num pormenor de classe, que a minha senhora ainda não
percebeu, eu vou-me arranjar (por-me bonito), antes de sair.
Entro no carro e olho para a lista de compras, da mesma
forma que olhava para um “flyer” a anunciar uma festa numa qualquer discoteca.
Ligo o carro, arranco e vou metendo as mudanças
razoavelmente “puxadas”, possuindo-me de um espírito jovem e rebelde q.b.
Chego, entro no parque de estacionamento e faço o óbvio,
estaciono, mas com um pormenor de sofisticação, braço de fora, apesar das
dificuldades que tenho para estacionar só com um braço.
Indiferente ao movimento na porta, avanço e entro no “Pingo
Doce”, o que nem sempre acontecia em jovem nas discotecas a abarrotar.
Não tenho nenhum patrocínio desta superfície comercial,
mas tal como em jovem gostava de bares e discotecas com um toque de
sofisticação, atrai-me o “décor” do “Pingo Doce”, com uma banca de frutos secos
à entrada, seguida de uma banca de frutas, mas sem bailarinas em cima a dançar!
Pego em nozes e bananas e passeio-me pelos corredores,
mostro-me e vejo quem está. Na fila dos lacticínios avisto uma cara nova, e
gira, olho para a lista de compras e não encontro leite, mas arrisco. Aproximo-me do
leite meio-gordo, e a miúda, gira ao longe, ao perto era o Quim! Deve ser da
idade, começar a ver mal ao longe.
- Olá Quim! Tudo bem?
- Está tudo bem Calheiros! Viste comprar leite?
- Não faz parte da minha lista. Eu é que te vi e vim
cumprimentar-te.
(tento disfarçar)
Posta a conversa em dia, afasto-me, preocupado com o
pensamento, “Será que as miúdas giras, para quem assobio ao longe, são homens?!”.
Necessitado de um “copo” (na discoteca, procurava o bar
com a miúda mais gira a servir para pedir a minha bebida), fui comprar fiambre.
Não tinha balcões para escolher, fui ao único que havia.
- Boa tarde! Quero trezentos gramas de fiambre.
- Da pá ou da perna?
Como sempre pedi o Wisk sem gelo, respondo:
- Da perna.
Olho para a lista e não tinha nada em falta, estava na
hora de ir embora. Como sempre nos finais de noite, no fim das compras continuo
a querer sair o quanto antes. Com a precisão de um “sniper”, estabeleço a
relação pessoas/quantidade de compras e decido a melhor caixa – É aquela. Duas
pessoas, com um máximo de três produtos.
O troco acaba, quando a pessoa á minha frente está a ser
atendida, entretanto chega um ciganinho com uma Coca-Cola.
- É só isso? – pergunto.
- É. – responde-me o miúdo.
- Então passa à minha frente.
- Mãeeeeeeee, paiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, este senhor
deixa-nos passar à frente.
Olho e vejo todo o agregado familiar,cada elemento com um
carrinho de compras, cheio.Duas horas e meia depois de chegar à caixa, chego a
casa.
- Tanto tempo morzinho! Foi dura esta ida ás compras?
- Horrivel! Estou estafado! – respondo.
Encolhendo os ombros, a Cristina diz-me:
- Pois, para a semana tens que ir outra vez!
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