terça-feira, 4 de agosto de 2015

Adélio Dani (3º episódio)

Adélio Dani é matriculado e começa a frequentar as aulas na faculdade de Economia enquanto os pais mantêm as suas actividades. Augusto sai todos os dias para o mar e Dália para o mercado de peixe e o sol todos os dias nasce atrás da estação de Campanhã e põe-se por trás da casa do Angelino.
Adélio Dani é levado para a Faculdade, na alcofa, pelo seu grande amigo Rubi, que também transporta os livros escolares numa pasta pendurada no seu lombo. Graças a Rubi, Adélio Dani nunca falhou uma aula e chegava sempre a horas. A integração que à partida se poderia supor complicada, devido ao feitio especial dos hiperdotados, foi fácil e rápida, em que a praxe e as festas académicas foram um bom incentivo. Rubi como fiel e bom amigo, nunca bebia nas festas, para que o seu pequeno dono pudesse usufruir à vontade dos excessos naturais do arranque da vida académica. Adélio Dani apanhou a sua primeira bebedeira às seis semanas de vida, ao início de uma noite de concerto dos “Xutos” e apanhou o primeiro coma alcoólico nessa mesma noite, no intervalo do concerto!

A vida académica decorria normalmente, quando no final do primeiro ano, Adélio Dani tem um teste de fogo. Um exame de apenas uma pergunta de desenvolvimento, que se traduzia no seguinte: “A teoria Marxista e a sua aplicabilidade nos tempos actuais. Desenvolva.”
O teste é distribuído por todos os alunos. Quando Adélio Dani recebe a folha do teste, mete-a no meio das suas pernas. Durante o teste, a criança obra diarreia de forma fluída, que transbordou da fralda para a folha do teste. No final do tempo regulamentar, o professor recolhe todos os testes.
Após a recolha, o Professor Doutor ficou curioso relativamente ao teste de Adélio Dani, por dois motivos. O primeiro porque nunca tinha corrigido o teste de um hiperdotado e o segundo devido ao cheiro da folha do teste. Corrigiu-o de imediato e ficou assombrado com a inteligência do petiz, que sem palavras conseguiu explanar toda a porcaria que é preciso para aplicar a teoria marxista nos tempos modernos do mundo ocidental. Com distinção passou para o segundo ano!

Com pouco mais de dois anos de idade, Adélio frequenta o segundo ano na Faculdade de Economia. Augusto todos os dias sai para o mar e Dália para o mercado de peixe e o sol todos os dias nasce atrás da estação de Campanhã e põe-se por trás da casa do Angelino.
Eis que a meio do ano lectivo, algo de trágico acontece na vida académica de Adélio Dani. É apanhado a copiar num teste sobre “As finanças em Portugal”. Implacável, o Reitor chegou a pensar em ponderar a expulsão de Adélio Dani da faculdade, pondo em alvoroço toda a população estudantil, mas desistiu da ideia porque só ia arranjar chatices ao ter de expulsar metade dos alunos…no mínimo!
Passado este episódio, Adélio Dani vai passando de ano em ano enquanto uma parte, cada vez mais considerável, da população estudantil continua a copiar, Augusto todos os dias sai para o mar e Dália para o mercado de peixe e o sol todos os dias nasce atrás da estação de Campanhã e põe-se por trás da casa do Meireles, após o incêndio que destruiu a casa do Angelino.
Eis que ao fim de cinco anos de estudos chega o grande momento. Adélio Dani, o hiperdotado, com apenas cinco anos e meio, entra no palco do anfiteatro da Faculdade de Economia, com o amigo Rubi a seu lado, para apresentar o seu trabalho de fim de curso perante uma plateia cheia, onde se encontram os pais Dália e Augusto e o tio Narciso, todos de papo cheio de orgulho.
Adélio Dani, com a sua voz de criança, inicia a apresentação do trabalho: - Olá, eu quero uma semanada! – E desata a chorar baba e ranho, por estar num palco tão grande e perante tanta gente.
Os pais, perante esta reacção pouco esperada de um hiperdotado, encolhem-se de vergonha e olham de cabeça baixa para toda a gente, à espera de reacções. Silêncio total, não fosse o berreiro insistente de Adélio Dani, agarrado ao seu fiel amigo Rubi, até que da assistência se levanta um senhor de meia-idade, que aplaude!

(continua)

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