segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Adélio Dani (6º episódio)

Augusto e Dália olham um para o outro e sentem que naquele sítio poderiam encontrar explicação para o sucedido. Sem nada dizerem, entram no estabelecimento do Neto, enquanto Narciso, irmão de Dália, diz: – Eu vou indo!
Entram, seguem um pequeno corredor e desembocam numa pequena sala, escura, com uma mesa ao centro, onde está sentado o vidente Neto e no canto três motorizadas. O vidente Neto tem como part-time a actividade de garageiro.
- Boa tarde, estava à vossa espera! – Diz o vidente!
- Fogo! Como sabia que vínhamos? – Pergunta Augusto.
- Então, eu encomendei-vos uma pizza! – Diz o vidente Neto, admirado.
- Deve haver engano, nós não trazemos nada! – Clarifica Dália.
- Aaahh… então não era à vossa espera que estava! – Diz o Neto, e prossegue. – Que vos traz por cá?
- Uma chatice Sr. Vidente, o nosso filho praticamente nasceu a falar como gente grande, entrou logo na Faculdade e com cinco anos e meio já tem um curso superior, mas agora esqueceu-se de tudo e parece uma criança normal!
- Algo muito estranho e sem explicação natural aconteceu – Conta Augusto.
- E que idade é que ele tem agora? – Pergunta Neto, o vidente
- Tem cinco anos e meio Sr. Vidente! Estamos a vir agora da apresentação do trabalho de fim de curso do nosso Adélio! Mas esqueceu-se de tudo! – Explica Augusto.
- Muito bem, já percebi! Vou consultar a minha mota mágica! – Diz Neto.
Dália, Augusto, Adélio Dani e Rubi, muito admirados, ficam a olhar uns para os outros, enquanto Neto, o vidente, se dirige para uma das motorizadas que estão no canto da garagem! Coloca o “quico” na cabeça, monta a Famel e durante breves momentos acaricia o depósito de combustível da motorizada! Desmonta a motorizada, saca de pente, penteia o cabelo para o lado e dirige-se novamente para a mesa, no centro da sala. Senta-se e diz:
- Quando o puto nasceu, ele não falou, quem falou foi o cão!
- O quêêêêêê?? Assim não te damos nada! – Dizem os pais de Adélio Dani.
- O que é que eu disse?! – Pergunta o vidente.
- Disseste que quem falou foi o cão! – Diz Augusto.
- Confundi-me, o menino quando nasceu falava muito bem! Vocês se fossem uns pais em condições, tinham-no metido no Inglês. – Diz o vidente.
- Olhe, não nos lembrámos! – Responde Dália, e prossegue: – Mas afinal o que é que o nosso menino tem?
- Esqueci-me! – Responde Neto, o vidente.
Levanta-se da mesa e dirige-se para a mesma motorizada no canto da garagem! Coloca o “quico” na cabeça, monta a Famel e durante breves momentos acaricia o depósito de combustível da motorizada! Desmonta a motorizada, saca de pente, penteia o cabelo para trás e dirige-se novamente para a mesa, no centro da sala. Senta-se e diz:
- A criança, sem vocês se aperceberem, caiu e bateu com a cabeça no chão e ficou com inteligência normal!
- Ai meu Deus, que desgraça! O que nos havia de acontecer, coitado do nosso menino! – Exclamam os pais de Adélio Dani.
- Gostaram da explicação? – Pergunta o Neto.
- Sim, gostamos! – Responde Dália
Perante esta resposta positiva, Neto, o vidente respira de alívio! Da entrada da garagem ouve-se uma voz:  - Venho entregar uma pizza.
- E agora, o que fazemos? – Pergunta Augusto, sem vislumbrar soluções.
- Vocês pais, voltam a ter um filho normal de cinco anos e meio. Ele tem que brincar com outras crianças, atirar pedras às sardaniscas, rachar a cabeça, ir para a escola…primária, andar à gadulha, coisas assim! Entenderam? – Explica Neto.
- Sim, Sr. Vidente, entendemos! Quanto é da consulta? – Pergunta Augusto.
- Olhem, à saída, paguem a pizza ao homem que está lá fora.

A família chega a casa, em Campanhã, e chega com a vergonha de Adélio Dani ter perdido, aos cinco anos e meio, o título do mais bem sucedido da freguesia. Este título passou para Nel, olhado agora por todos com mais admiração, por passar do segundo para o primeiro mais bem sucedido da zona.
Casado, sete filhos, a mulher só lhe foi infiel quarenta e quatro vezes em quinze anos de casamento… e um pormenor de classe nesta comunidade, Nel tem um emprego… na verdade, um part-time na lavandaria da freguesia vizinha que lhe garantia um ordenado e onde também lavavam a roupa da sua família a um preço simbólico. É a família mais limpinha da zona.


(continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário