Leopoldina,
nascida nos anos 50’s, quase nova, com a marca de “solteira” gravada pelo
destino cruel que levou a sua grande paixão, o Lima, que deixou de escrever as
lindas cartas de amor, que mesmo sem se conhecerem a cativou com as palavras doces,
confessou à sua melhor amiga:
-
Estou a viver um grande amor! Ele chama-se Lima. Não tarda vou casar!
-
Quem?! - pergunta a amiga, que com a
Leopoldina partilha as mesmas amizades e pessoas conhecidas.
- É
um rapaz que não conheço, que gosta de mim e carinhosamente me trata por
Gustinha! – responde, tentando esconder o sorriso na timidez.
As
cartas deixaram de aparecer, quando o Silva, carteiro das 8 às 16, de segunda a
sexta e alcoólico de segunda a domingo, desde que acorda até se deitar foi despedido,
e as cartas de Lima com destino à caixa de correio de Gusta, passaram a ser entregues
no destinatário correcto.
Por
alturas de Novembro, mês em que o Silva festeja a última bebedeira paga com o
ordenado dos CTT e Leopoldina recebeu, por engano, a última carta, relembra ano
após ano, que quase casou e festeja soltando um suspiro seguido de um “ai,
ai!”.
Juntou
quase uma fortuna, desde que recebeu a primeira carta de Lima, depois de Silva
ter bebido três cervejas a acompanhar um café com cheirinho, até à última, para
o arranque da vida de casada.
Desde há quarenta anos, faz todos os dias úteis o mesmo percurso, a pé,
para o local de trabalho. De tanta ida e volta, os sapatos rasos de Leopoldina
estão marcados no passeio e todos respeitam estas marcas como se fossem uma
passadeira válida apenas para ela.
Durante o tempo que passou entre as três cervejas a acompanhar um café com cheirinho e o
despedimento de Silva, Leopoldina fazia este trajecto em passo acelerado e
quase ficou em forma para o Lima...queria usar na noite de lua-de-mel um cuecão
reduzido!
Sempre
trabalhou no notário da terra (apesar de quase ter sido decoradora, o seu
sonho, quando viu um anúncio no jornal) e há tanto tempo, que sente que foi
prometida, pela mãe, para aquele trabalho. “Ainda bem!”, relembra-se amiúde.
Caso tivesse sido prometida ao filho de um casal qualquer, nunca teria vivido a
grande estória de amor.
Como quase
foi mãe, caso tirasse o cuecão reduzido na lua-de-mel se o Silva não tivesse
sido despedido, sente-se por isso abençoada e com jeito para as crianças.
Sempre que um casal amigo quer passar um serão romântico, na cervejaria
“Albuquerque” a comer uma francezinha e a beber uma cerveja, ela oferece-se
para tomar conta das crianças.
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