sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Estórias do dia da Greve.


Venâncio Neves é um jovem, na casa dos trinta anos, pouco amigo do trabalho, que por achar o seu nome pouco jovem, quando lhe perguntam:
- Como te Chamas?
- Eu sou o Quim Zé! – responde.
De tanto ouvir falar na falta de emprego, ele próprio se queixa, mas sem nunca ter procurado trabalho e nem mesmo emprego…chegou a ponderar seguir “artes circenses” no ”Chapitô”, mas atirar bolas ao ar com mestria malabarista causa-lhe tonturas!
Venâncio Neves, ou melhor, o jovem Quim Zé é um ser com um ideal político romântico…é apologista da corrente “Paz e Amor” numa sociedade aberta às drogas e ao álcool e de um Estado com uma estrutura de apoio social forte a pessoas como ele, que à semelhança de outros bons filhos da sociedade tem uma caraterística identificativa…Quim Zé é um revoltado com tudo, apesar dos pais nunca lhe terem faltado com o que é importante…comida, cama, carinho e educação!

Hoje é 14 de Novembro de 2012, dia de Greve Geral. Quim Zé acorda bem cedo com o barulho que os pais fazem ao sair para trabalhar. Vira-se para o outro lado e continua a dormir.
O Sr. João e a Dona Augusta trabalham juntos, numa empresa de transportes. À chegada, são travados por um piquete, que no desempenho do seu direito à greve, querem forçar o Sr. João e a Dona Augusta, ao dever da mesma. Amedrontado, o casal avança para o local de trabalho debaixo de alguns insultos, com a consciência e alívio de que desta vez até correu bem…não foram insultados mais de três minutos, nem foram alvo da brincadeira de infância “estátua para todos”!

Estamos a meio da manhã e o país está atrasado. Ninguém chegou a horas ao trabalho nem às aulas e o Sr. Manuel Portugal perdeu mais uma consulta, que para seu azar, calha sempre em dia de Greve Geral... A Greve começa a ter os resultados de sempre…tramar a população! O Sr. Manuel Portugal virá a falecer na próxima Greve Geral…desculpem…na próxima consulta perdida!

São 14H30M, Quim Zé após o almoço, vai ter com os amigos Antero Cunha e Armando Alves, que preferem ser tratados por Luís Vaz e Zé Maria e partilham o ideal de uns sustentarem os outros, em que eles têm o direito a ser sustentados, mas cumprem o dever de se sentirem indignados!
Fumam uns charritos e bebem umas Super Bock’s!

São 16H, os pais de Quim Zé estão a poucas horas de terminar o dia de trabalho. Nas avenidas de Lisboa uma torrente de “formiguinhas” manifesta-se, comandada pelo novo galo, o Arménio, que de crista ao alto, cimenta as suas patas no poleiro, enquanto as “formiguinhas” mais privilegiadas gritam mais, como se fossem mais injustiçadas que as outras! Quim Zé e os amigos divertem-se na esplanada a ver o galo da capoeira e seu exército de “formiguinhas” a passar!

São 19H, Quim Zé regressa a casa para jantar. Os pais só vão chegar às 23H30M, devido à falta de transporte, estafados e a pensar já no dia seguinte de trabalho.
Quim Zé espera até às 19H30M e quando se apercebe que não vai jantar uma refeição quente feita pela mãe, revolta-se. Coloca uma máscara do Pato Donald, utilizada no carnaval de 1988 e vai para a frente da Assembleia da Republica, onde já estão alguns mascarados a atirar pedras à POLÍCIA DE CHOQUE. “A mãe destes também não lhes deve ter feito o jantar!”, pensou Quim Zé, e começa a apedrejar a Polícia!

Como ir ao cinema é caro, um novo hobby surgiu, que consiste em ir para a Assembleia da República no final das greves e manifestações assistir ao espetáculo da “calhoada” á Polícia!
A assistência ia crescendo, como que a concordar com aqueles atos. Quim Zé e os outros mascarados sentiam-se animados/incentivados para continuar a agredir a autoridade e a destruir o que é de todos e que todos vão pagar!
Quim Zé sente um toque nas costas. É um senhor que assiste a tudo avidamente, de mão dada ao filho, a alertá-lo:
- Ó jovem indignado, aquele polícia ali ainda não levou com nenhuma pedra da calçada! Só levou com garrafas!
- Ai não! Vai já levar com algumas! – responde Quim Zé, prosseguindo – Obrigado, meu bom homem!

Neste momento o cenário é constituído pelos mascarados, a atirar pedras à POLÍCIA DE CHOQUE, os voyeurs da selvajaria, que se vão acumulando atrás dos mascarados, a POLÍCIA DE CHOQUE nos degraus da Assembleia da República e lá dentro os (i)rresponsáveis do país!

XXHorasYYMinutos, após aviso, a POLÍCIA DE CHOQUE avança! “Carga brutal”, afirmam os voyeurs, que já não podem assistir ao espetáculo descansadinhos como quem vê um filme no cinema, e que não percebem o mal de ser apedrejado!
Estas pessoas que assim se divertem alimentam o que há de pior na sociedade, e argumentam ao estilo dos espetadores não assumidos do “Big Brother”, condenando e criticando os arruaceiros, mas não resistindo a assistir a tudo com voracidade e deleite, criando público para mais um “Big Brother”!

Entre os mascarados, os voyeurs da selvajaria, os políticos e a polícia…são estes últimos, quando precisamos de auxílio, que acabamos por chamar!

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