Em nome da proteção do indivíduo, do pensamento
politicamente correto e da necessidade de criar notícias, as reações das
pessoas e instituições perante os mesmos comportamentos, no passado e no
presente, são muito diferentes.
Se entrarmos no Delorean, o carro que viaja no tempo do filme “Regresso ao Futuro”,
e viajarmos para o passado até ao momento em que quase tudo era diferente, a
viagem é muito curta, semelhante a pegar no carro para irmos ao café que fica a
20 metros de nossa casa!
Quando era criança, uma boa parte das mães eram
domésticas e por isso mais presentes, ao contrário das mães atuais, que para
compensarem alguma ausência, com orgulho dizem que são a melhor amiga dos
filhos(as). Mas no meu tempo a mãe era muito mais do que isso, eram amigas e
educadoras, que nos tempos atuais se acrescenta o facto de serem profissionais
e têm que ser giras e magras. Na escola os professores eram a extensão dos
pais, assumindo igualmente um papel educador! Ai de mim se chegava a casa e
dizia que a professora me tinha colocado de castigo, ele iria ser prolongado
pela minha mãe, e agora, 30 anos depois, há sempre o risco do professor ter uma
esperinha à porta da escola!
No meu tempo é que era!
Ainda na
escola, começamos a aprender a sobreviver à selva que são os relacionamentos, e
não exagero quando utilizo o termo selva, porque assim o era. Se atualmente as
criancinhas já usam as redes sociais e fazem “Likes” aos/às coleguinhas, no meu
tempo trocávamos papeis com frases arcaicas, geralmente “Gosto de ti, gostas de
mim?” com o pormenor de classe, dois quadrados, um para o “sim” e outro para o
“não”, formas primitivas do que viria a ser o “Like”, (por segurança, apenas
colocava o quadrado do “sim”). Os intervalos eram momentos de libertação da
energia contida, devido à austeridade da professora. Eram aproveitados para
grandes correrias sem sentido, como quando tiram a trela a um cão que está
preso há muito tempo, para jogar futebol e para pregar uns milhos ao “tótó” da
turma…o que na época era uma atividade para passar o tempo e a melhor forma de
integração do “tótó”, agora chamam de “Bulling” e é noticia de abertura nos
telejornais! Mas no fundo gostávamos do “tótó” e éramos amigos dele de uma
forma que ele não entendia!
No meu tempo é que era!
As brincadeiras eram na rua com os nossos amigos
reais. Durante anos não soube o que era ter o corpo sem feridas, principalmente
por causa das futeboladas nas ruas de
paralelo, onde as balizas eram duas pedras. Esta brincadeira fez-nos
desenvolver capacidades visuais tremendas, semelhantes às do Robocop. Num remate a estas balizas de
duas pedras, virtualmente víamos claramente postes e uma trave, e quando o
adversário dizia “É golo”, com certeza conseguíamos contrapor dizendo “A mim
não me enganas, foi ao poste!” ou “Passou por cima da trave!”…sem discussão o
jogo continuava! Nessa altura tínhamos uma arma de eleição, a fisga, que nos
tempos atuais se equipara a uma 6.35. A única diferença é que a fisga não
matava…mas assustava! Hoje em dia os miúdos só jogam se o campo for relvado e se
os pais os transportarem até lá e quando fazem um “dói-dói”, admirados
perguntam, “O que é isto vermelho?”. Sou da geração Tom Sawyer e levar uma
criança de hoje à criancice dos anos 80, seria o mesmo que levá-lo a um treino
dos Comandos. O que no passado era o crescimento normal de uma criança,
atualmente são as razões para tirar um filho aos pais!
No meu tempo é que era!
Na pré-adolescência apareceu o ZX Spectrum, e habituámos-nos a esperar às
meias horas que o computador carregasse o jogo. Na mesma altura apercebemos-nos
que algo de bizarro mas apetecível acontecia com as nossas amiguinhas, quase ao
ponto de pensarmos em trocar um jogo de futebol para ficarmos com elas. Seus
corpos ganhavam formas e já começavam a ser “chatinhas… Fugíamos feitos uns
loucos quando apalpávamos partes delas, que não existiam no mês anterior!
Atualmente, durante o mesmo período de tempo, em
que esperávamos que o Spectrum
carregasse um jogo, os miúdos nas Playsation e PSP provocam 7 holocaustos e
ainda não sabem que as raparigas são diferentes dos rapazes!
No meu tempo é que era!
A adolescência, dos agora trintões, era muito
ocupada com as mulheres, pelo menos assim queríamos…não havia telemóveis e
existia o compromisso. Podia conhecer hoje uma”menina” de Braga e combinar um
cafézinho daqui a 4 dias, no café “Central”, e à hora aparecíamos no sítio
combinado, ao contrário dos adolescentes de hoje que, com as facilidades de
comunicação, desmarcam encontros 5 minutos antes de acontecerem e encontram-se
em casa, cada um na sua, e convivem ao computador enquanto apalpam… um écran…Abri
os olhos rapazes!!!
Sou do tempo em que se escrevia cartas e postais e
ficava duas semanas à espera de resposta, quando hoje tudo está ao alcance de
uma mensagem por telemóvel ou computador.
Para mim, a maior revolução não foi o 25 de Abril
nem a Perestroika, foi o aparecimento
do “Correio Azul”, que encurtou o tempo de espera para uma semana e em alguns
casos para 3 dias, caso “ela” disponibilizasse mais uns escudos para igualmente
responder em “Correio Azul”! Fui arrastado para as novas tecnologias para não
me perder no tempo, mas tudo é tão presente que sinto que o passado foi na
semana passada e tudo mudou na segunda-feira! Ainda me sinto com um pé no
domingo e não quero que de lá saia, não quero perder o passado, ajuda-me a
entender as mesmas coisas de forma diferente!
No meu tempo é que era…ou não!
No teu tempo e no meu :(
ResponderEliminarADOREI o teu texto!!!
EHEHEH
ResponderEliminarAndaste novamente a inspirar o ar do pinheiros????