sexta-feira, 9 de novembro de 2012

No meu tempo é que era!


Em nome da proteção do indivíduo, do pensamento politicamente correto e da necessidade de criar notícias, as reações das pessoas e instituições perante os mesmos comportamentos, no passado e no presente, são muito diferentes.
Se entrarmos no Delorean, o carro que viaja no tempo do filme “Regresso ao Futuro”, e viajarmos para o passado até ao momento em que quase tudo era diferente, a viagem é muito curta, semelhante a pegar no carro para irmos ao café que fica a 20 metros de nossa casa!
Quando era criança, uma boa parte das mães eram domésticas e por isso mais presentes, ao contrário das mães atuais, que para compensarem alguma ausência, com orgulho dizem que são a melhor amiga dos filhos(as). Mas no meu tempo a mãe era muito mais do que isso, eram amigas e educadoras, que nos tempos atuais se acrescenta o facto de serem profissionais e têm que ser giras e magras. Na escola os professores eram a extensão dos pais, assumindo igualmente um papel educador! Ai de mim se chegava a casa e dizia que a professora me tinha colocado de castigo, ele iria ser prolongado pela minha mãe, e agora, 30 anos depois, há sempre o risco do professor ter uma esperinha à porta da escola!
No meu tempo é que era!

 Ainda na escola, começamos a aprender a sobreviver à selva que são os relacionamentos, e não exagero quando utilizo o termo selva, porque assim o era. Se atualmente as criancinhas já usam as redes sociais e fazem “Likes” aos/às coleguinhas, no meu tempo trocávamos papeis com frases arcaicas, geralmente “Gosto de ti, gostas de mim?” com o pormenor de classe, dois quadrados, um para o “sim” e outro para o “não”, formas primitivas do que viria a ser o “Like”, (por segurança, apenas colocava o quadrado do “sim”). Os intervalos eram momentos de libertação da energia contida, devido à austeridade da professora. Eram aproveitados para grandes correrias sem sentido, como quando tiram a trela a um cão que está preso há muito tempo, para jogar futebol e para pregar uns milhos ao “tótó” da turma…o que na época era uma atividade para passar o tempo e a melhor forma de integração do “tótó”, agora chamam de “Bulling” e é noticia de abertura nos telejornais! Mas no fundo gostávamos do “tótó” e éramos amigos dele de uma forma que ele não entendia!
No meu tempo é que era!

As brincadeiras eram na rua com os nossos amigos reais. Durante anos não soube o que era ter o corpo sem feridas, principalmente por causa das futeboladas nas ruas de paralelo, onde as balizas eram duas pedras. Esta brincadeira fez-nos desenvolver capacidades visuais tremendas, semelhantes às do Robocop. Num remate a estas balizas de duas pedras, virtualmente víamos claramente postes e uma trave, e quando o adversário dizia “É golo”, com certeza conseguíamos contrapor dizendo “A mim não me enganas, foi ao poste!” ou “Passou por cima da trave!”…sem discussão o jogo continuava! Nessa altura tínhamos uma arma de eleição, a fisga, que nos tempos atuais se equipara a uma 6.35. A única diferença é que a fisga não matava…mas assustava! Hoje em dia os miúdos só jogam se o campo for relvado e se os pais os transportarem até lá e quando fazem um “dói-dói”, admirados perguntam, “O que é isto vermelho?”. Sou da geração Tom Sawyer e levar uma criança de hoje à criancice dos anos 80, seria o mesmo que levá-lo a um treino dos Comandos. O que no passado era o crescimento normal de uma criança, atualmente são as razões para tirar um filho aos pais!
No meu tempo é que era!

Na pré-adolescência apareceu o ZX Spectrum, e habituámos-nos a esperar às meias horas que o computador carregasse o jogo. Na mesma altura apercebemos-nos que algo de bizarro mas apetecível acontecia com as nossas amiguinhas, quase ao ponto de pensarmos em trocar um jogo de futebol para ficarmos com elas. Seus corpos ganhavam formas e já começavam a ser “chatinhas… Fugíamos feitos uns loucos quando apalpávamos partes delas, que não existiam no mês anterior!
Atualmente, durante o mesmo período de tempo, em que esperávamos que o Spectrum carregasse um jogo, os miúdos nas Playsation e PSP provocam 7 holocaustos e ainda não sabem que as raparigas são diferentes dos rapazes!
No meu tempo é que era!

A adolescência, dos agora trintões, era muito ocupada com as mulheres, pelo menos assim queríamos…não havia telemóveis e existia o compromisso. Podia conhecer hoje uma”menina” de Braga e combinar um cafézinho daqui a 4 dias, no café “Central”, e à hora aparecíamos no sítio combinado, ao contrário dos adolescentes de hoje que, com as facilidades de comunicação, desmarcam encontros 5 minutos antes de acontecerem e encontram-se em casa, cada um na sua, e convivem ao computador enquanto apalpam… um écran…Abri os olhos rapazes!!!
Sou do tempo em que se escrevia cartas e postais e ficava duas semanas à espera de resposta, quando hoje tudo está ao alcance de uma mensagem por telemóvel ou computador.
Para mim, a maior revolução não foi o 25 de Abril nem a Perestroika, foi o aparecimento do “Correio Azul”, que encurtou o tempo de espera para uma semana e em alguns casos para 3 dias, caso “ela” disponibilizasse mais uns escudos para igualmente responder em “Correio Azul”! Fui arrastado para as novas tecnologias para não me perder no tempo, mas tudo é tão presente que sinto que o passado foi na semana passada e tudo mudou na segunda-feira! Ainda me sinto com um pé no domingo e não quero que de lá saia, não quero perder o passado, ajuda-me a entender as mesmas coisas de forma diferente!

No meu tempo é que era…ou não!  

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