Quando fui
buscar uma gatinha bébé, a uma associação de protecção de animais, a assistente
pergunta-me:
- Sabe que os
gatos miam?!
Não tendo
percebido a pergunta ela explica que no dia anterior foram entregar um gato, porque
miava, e um cão, porque fazia cócó!
Perante esta
novidade, hesitei e pedi se podia lá passar no dia seguinte. Atarantado, fui
depressa a uma loja de chineses, para comprar um gato de porcelana…não havia.
A empregada da
loja mostrou-me, em alternativa, um Dálmata em porcelana lustrosa, mas o meu
olhar recaía sobre um Falcão em barro a bom preço e com a garantia de que não
fazia barulho nem satisfazia as suas necessidades fisiológicas…o horror surgiu
quando a empregada me diz que se a peça cai, desfaz-se em cacos! O que eu
sofreria depois de ganhar afecto ao Falcão em barro…!
Estava dividido
entre um animal, que estranhamente reage fisiologicamente como nós e uma peça
de porcelana, que caindo parte-se em mil pedaços.
Fui pesquisar e
aprendi que no mundo animal, os seres emitem sons para comunicar e demonstrar
sentimentos e curiosamente todo o animal que se alimenta e hidrata, tem um
sistema digestivo e urinário por onde expele e desintoxica o corpo!
Fez-se luz, aqueles
pedaços de lama, de formas variadas, que ocasionalmente calco, afinal são cócós de animais! Pus todo o meu calçado
a lavar!
Com urgência,
fui falar com a minha mãe que recentemente tinha adoptado uma gata.
- Mamã, a
gata caga! - anuncio-lhe com uma
certa aflição e com uma linguagem nada cuidada.
- Tento na língua,
Zé! Claro, e tu borravas-te todo quando eras bébé, mais do que a Camila (a
gata)!
- E não me
devolveste? – pergunto, espantado, com tanta informação nova.
- Devolver a
quem? De volta para o escroto do teu pai, em forma de espermatozóide?!
Após alguns
argumentos e contra argumentos com a minha mãe, percebi que as pessoas de quem
mais gostamos dão trabalho para cuidar, mas é recompensador, e isto aplica-se
aos animais, também!
De regresso a
casa, paro a olhar para o Falcão em barro, instalado na montra dos chineses e a
pensar “Que boa companhia esta ave me faria!”.
Entretanto sinto
um respirar ofegante. Olho para baixo e vejo um cão de porte médio, a olhar
para mim, de língua de fora e com uma expressão de compaixão, como se tivesse
pena de mim:
- Eu vivo melhor
do que tu, cão! – digo-lhe, sem que ninguém tenha reparado.
No caminho de
casa faço nova paragem, desta vez na associação de protecção de animais e
enquanto espero entra um jovem, casado, a devolver uma gata, explicando que ele
até gostava mais ou menos da gata mas…fazia chichi, para pena dele e da mulher!
A assistente recebe a gata e afasta-se, lamentando-se. Este jovem há pouco
tempo tinha devolvido um pássaro e desta vez devolve uma gata!
Para mim
abriu-se uma janela de oportunidade e pergunto:
- Sra.
Assistente, posso levar um animal à experiência? Pode ser que tenha a sorte de
levar um animal que não faça barulho, nem porcarias!
A assistente,
cansada destas situações, telefona para uma clínica psiquiátrica, para
denunciar o meu caso, mais um de Estupidez
Compulsiva, dos vários que acontecem naquela associação.
Com receio do
internamento, corro para casa, e a 2 metros e 58 centímetros da porta de
entrada, tropeço e caio. Quem passava ria-se, e eu envergonhadamente, deitado,
mexia os braços e as pernas, para me certificar dos danos motores no meu corpo.
De repente sinto uma lambidela no braço…era o mesmo cão que me mirava na montra
dos chineses e me lambia a ferida…o único ser que passou por mim e em vez de se
rir, auxiliou-me!
Olhei para o cão
e perguntei-lhe:
- Queres entrar?
O cão, com os
olhos, respondeu-me: - Se não me voltares a abandonar!
Desde então
percebi que as notícias de homens a maltratarem o seu semelhante e os animais a
darem a vida pelos seus donos, não é ficção!
Desde então
percebi que aquele cão nunca iria retribuir o mal que lhe pudesse fazer e sempre
gostaria de mim, incondicionalmente!
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