...
Nasce um novo dia.
Muito próxima de uma
depressão nervosa, Dália saiu para o mercado com o arranjo de flores. Ao final
da manhã, Adélio Dani acorda quando Rubi já brincava com o seu amigo hamster.
“Vou ver os pombos, os
quatro fantásticos!” – Foi o primeiro pensamento de Adélio Dani. Sai da cama e
aproxima-se da caixa, pousada em cima de uma cadeira, onde estão Perez, Eros,
Matias e Manel, os quatro pombos fabulosos, oferecidos por Alfredo. Com muito
cuidado levanta a tampa, para os pombos não fugirem quando repentinamente
escapam quatros hamsters, que fogem
pelo quarto fora e em sua perseguição seguem Rubi e o seu novo amigo, que
também persegue os da mesma espécie!
Aflito, Adélio dá pulos
de irritação enquanto grita: – Nãããããooooooooooooo!
Passados cinquenta e seis
minutos, Rubi chega a casa e entra no quarto, com o seu amigo hamster ao lombo, mais os outros quatro,
que após longa conversa, descobriram que tinham algo muito forte em comum,
todos gostam de escrever!
- Rubi, meu amigo! – Diz
Adélio, ofegante e preocupado.
- Au, au.
- Esses quatro hamsters que estão pendurados em ti eram
pombos. Durante a noite foram transformados em ratos…esta casa está
assombrada…temos que resolver isto! – Dita Adélio Dani.
- Auuuuuuuuuuuuuuuu! – Responde
Rubi, mostrando sintonia com o seu amigo humano.
Adélio, Rubi e os cinco
hamsters dirigem-se para a rua Joaquim Azevedo, ao encontro de Neto. Chegados à
porta da garagem, um cartaz anuncia: “Neto, o vidente, adivinha o passado e o
presente, por questões pessoais foi à Suíça, contrair matrimónio com uma vaca
de tetas rijas. Regresso amanhã.”
- Que azar! Vamos embora!
– Diz Adélio Dani.
Os sete regressam a casa
e todos os barulhos que Adélio ouvia, desde o ranger da porta empenada até ao
chiar das molas do seu colchão, associava a almas penadas.
Nasce um novo dia e como
costume Dália é a primeira a sair e bate a porta. Com o barulho, Adélio acorda
e pensa: “Os espíritos andam aí!” – Olha para o lado e vê Rubi e os hamsters a
brincar. – “E a bicharada está possuída…tenho que fazer algo! É isso, vou
dormir mais um bocadinho e depois vou ao Neto!”.
Mais tarde, acorda
assustado, mas já sem sono, e a bicharada continua a brincar.
- Continuam possuídos,
tenho que ir já para o Neto! – Diz corajoso.
Adélio Dani enceta caminho,
enxotando a bicharada à sua frente. Chegados à porta da garagem, um cartaz
anuncia: “Neto, o vidente, adivinha o passado e o presente. Já cheguei.”.
Colada ao cartaz está uma fotografia do matrimónio, onde se vê Neto, de sorriso
rasgado, com a sua vaca, e atrás, toda a família da noiva, tendo como cenário,
os Alpes.
Adélio, Rubi e os hamsters entram. Ao centro, a mesma mesa
de sempre com as mesmas cadeiras e ao fundo as mesmas motorizadas. Num canto da
sala, uma novidade, uma cadeira em metal reforçado, onde estava Neto, sentado,
com a sua amada ao colo. Foi este romantismo que seduziu Sissi, a vaca!
- Meu amor, tenho
clientes! – Diz Neto.
- Muuuu! – Diz Sissi. Levanta-se do colo de Neto e vai
para um anexo da garagem.
- Esperem um pouco! – Diz
Neto a Adélio e à bicharada, enquanto estica as pernas.
Depois de restabelecida a
circulação sanguínea nas pernas (não é fácil ter ao colo 6oo Kg de chicha), Neto dirige-se para a mesa ao
centro da sala e senta-se.
- Tu outra vez, meu
rapaz! – Diz Neto para Adélio sem tirar a sua expressão de extrema felicidade, com
olhos esbugalhados e sorriso de orelha a orelha, que na Suíça lhe valeu a
alcunha de Sapo Sorridente.
- Sim Sr. Neto. Tenho um problema muito sério!
- Não me digas que
aprendeste a nadar! – Diz Neto admirado, sem tirar a sua expressão de extrema
felicidade!
- Pior, pior, pior, Sr.
Neto, você nem imagina!
- O quê, seu rapazola? –
Pergunta Neto extremamente exaltado e sentindo-se afrontado na sua competência,
sem perder a sua expressão de extrema felicidade – Achas que eu não imagino?!
Eu sou o Neto, o vidente! Percebes?!!!
- Desculpe Sr. Neto, eu
não quis dizer isso, é óbvio que você imagina… - E é interrompido por Neto.
- Imagino o quê?! – Pergunta
com violência e continuando: – Por acaso disseste-me o que vieste cá fazer?
Achas-me bisbilhoteiro para saber da vida dos outros? – Termina, recuperando a
expressão de extrema felicidade.
- Bem, o que me trouxe
aqui Sr. Neto, é que a minha casa está assombrada e aqui o meu amigo Rubi e o
amigo dele estão possuídos e os outros quatro ratos eram pombos campeões! – Explica
Adélio Dani, prosseguindo: – Até desconfio, que o meu pai Augusto não tenha
chegado a ir para a faina do bacalhau, porque os espíritos fizeram-no
desaparecer!
- Estás tolo rapaz? – Pergunta
Neto.
- Defina tolo!
- Pessoa mentalmente
destrambelhada, capaz de fazer coisas estranhas! – Responde Neto, com a sua
expressão de extrema felicidade, fruto do matrimónio com Sissi, a vaca.
- Acho que não, Sr. Neto!
Sou um bocado destrambelhado e às vezes faço coisas estranhas, mas as duas
coisas ao mesmo tempo, não! – Explica Adélio.
- Então podemos continuar
com a consulta! – Diz Neto, mais sereno, com a expressão de Sapo Sorridente. Olha atentamente para a
bicharada, e: – Parecem-me todos normais, não havendo sinais de fenómenos para
além do normal! – E em pensamento, continua: “Tirando tu, seu anormal!”.
- Não, não! – E apontando
para os bichos – Isto é um cão possuído! Isto é um hamster possuído! E isto são
quatro pombos transformados em hamsters… - E é interrompido por Neto.
- E possuídos também!
- Não, não! São só quatro
pombos transformados em hamsters! E como
já lhe disse, o meu pai está preso por um espírito qualquer! Coitadinho!
-Bem, tenho que consultar
o depósito de chapa, o meu “Oráculo”. – Diz Neto.
-Heinn! – Responde Adélio
Dani.
Neto levanta-se e
dirige-se para o fundo da garagem, onde tem as motorizadas encostadas, enquanto
pensa: “Mais um que quer ouvir só o que lhe interessa”. Coloca o “quico” na
cabeça, monta a Famel e durante
breves momentos acaricia o depósito de combustível da motorizada! Desmonta a
motorizada, saca de pente, penteia o cabelo para o lado e dirige-se novamente
para a mesa, no centro da sala. Senta-se e diz:
-Tens toda a razão meu
rapaz, a bicharada está toda possuída! – Diz Neto, com a expressão de Sapo Sorridente.
-Bem me parecia! E o meu
paizinho, coitadinho! – Pergunta Adélio.
- Hi pá, esse…coitadinho…
O teu pai está preso numa cortina espiritual que não o deixa ir para casa…mas
ele está próximo!
-E agora Sr. Neto, como é
que resolvo este problema?
-Só há um capaz de o
fazer! – Diz Neto em tom solene, mas com uma expressão de extrema felicidade.
-Quem? – Pergunta Adélio
Dani.
-O padre Rodolfo, da
paróquia de Paranhos! O último grande exorcismo que fez foi a uma estátua que
estava possuída no largo principal de Miragaia! Mas também me lembro dos tempos
em que ele era defesa-central do Canelas F.C., e de forma magistral, despossuía
os avançados, da equipa adversária, à sarrafada…que bonito!
Após a explicação Adélio
levanta-se e: – Bicharada, vamos! Até
logo Sr. Neto.
-Até logo, o tanas! O meu
pagamento? – Pergunta o Neto, com uma expressão de arreliado.
-Mas eu não tenho
dinheiro!
-O quê? Seu estupor. Então
vens a uma consulta altamente especializada, de elevada performance, que foi como assistir a uma peça de teatro…e não
trazes dinheiro?! Fico com os pombos possuídos. – Ordena Neto.
Assim foi.
Adélio Dani já não
precisava dos pombos possuídos para salvar vidas como nadador-salvador, porque
afinal o seu pai estaria por perto e não teria morrido no naufrágio da
traineira! Neto, no final da consulta, já estava cheio de saudades das tetas
rijas de Sissi, e ia oferecer-lhe os
quatro hamsters!
É meio da tarde, Adélio
Dani tem uma ligeira ideia de que há missas ao final da tarde. Arrepia caminho
com Rubi e o hamster e chega ao Largo
Paroquial de Paranhos às 19h45m. Na porta da igreja, olha para o horário das
missas e apercebe-se que está a decorrer uma, que tinha começado às 19h. “Deve
estar a terminar, vamos entrar!” – Pensou Adélio Dani.
(continua)
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